domingo, 31 de maio de 2015

Capítulo 14 – O Quarto Fechado

O tempo escureceu e a noite chegou. Já todos estavam deitados e eu não conseguia adormecer. Mal fechava os olhos começava a pensar sobre os meus pais, que cada vez estavam piores comigo, sobre Nicole, que estava cada vez mais estranhamente meiga, mas principalmente sobre Mickael. Parecia que cada vez gostava mais dele, mas continuava a sentir receio de voltar a ter uma desilusão, e por isso optava por permanecermos amigos.

No meio de todos estes pensamentos, acabei por adormecer, e umas horas depois, acordei sobressaltada com um terrível pesadelo. Afinal os sonhos estranhos ainda não tinham acabado! Mais uma vez tinha sonhado que tinha sido brutalmente agredida e, desta vez, parecia tão real que me parecia doer todo o corpo. Depois disto não consegui mesmo dormir mais. Então levantei-me cobrindo-me com um fino robe branco e saí do quarto de bicos de pés para não acordar Nicole, que dormia ao meu lado como um bebé.

Caminhei pelo corredor em direção ao quarto que, na minha memória, sempre fora meu desde criança e que agora se encontrava trancado, sem eu saber os motivos nem ter qualquer explicação. Verificando que a porta não abria de maneira nenhuma, caminhei vagarosamente para o quarto dos meus pais e, com esperança de encontrar uma chave que pudesse abrir aquela porta, revistei silenciosamente as mesinhas de cabeceira, as cómodas e os armários. De repente, a luz do corredor acendeu-se. Vi que era Nicole e mantive-me escondida no canto escuro do quarto, quando reparei, com a ajuda da luz vinda do corredor, numa pequena e misteriosa caixa preta com riscas douradas brilhantes que se encontrava por baixo da cama onde estavam os meus pais. 

Ouvi os passos de Nicole que saíra da casa de banho e regressava agora para o quarto. Devia estar tão sonolenta que nem dera pela minha ausência. Caminhei então em frente para pegar na misteriosa caixa, quando a luz do corredor foi apagada e eu tropecei numa almofada que se encontrava na minha frente.  Deixei-me ficar no chão como um rato morto, rezando para que ninguém tivesse ouvido a minha queda. Vi o meu pai virar-se para o outro lado da cama e adormecer novamente. Rastejei pelo chão até conseguir alcançar a caixa brilhante e então, finalmente, pude abri-la. Lá dentro encontrei cerca de umas 20 chaves! Tinha muito trabalho pelo resto da madrugada. Levantei-me com a caixa na mão, tentando não tropeçar na mesma cabeceira caída no chão, e segui em direção ao quarto trancado. Comecei a experimentar todas as chaves, uma por uma, pondo de lado todas as que não funcionavam. Apenas nas últimas chaves, quando estava já a perder a esperança, é que uma delas funcionou, fazendo estalar a porta para dentro e abrindo-a.

Entrei ansiosa por saber, pelo facto de estar trancado, se lá estaria algo que não pudesse saber. Foi então que acendi a luz e saltei de susto, permanecendo parada a observar boquiaberta toda aquela confusão. Montes de fotografias minhas estavam rasgadas por cima da cama, os quadros de família que costumavam estar nas paredes, estavam agora partidos e espalhados pelo chão. Por cima das cómodas havia fotografias minhas com a Alice e o Rúben numa roulotte, exatamente como quando sonhava com eles. O resto do quarto estava vazio, talvez tivessem vendido o resto das minhas coisas a alguém, ou talvez destruído por completo.

De seguida abri os armários e as roupas encontravam-se todas queimadas. Afastei-me delas com as lágrimas a escorrerem pela cara e sentei-me na cama a olhar para elas, estupefacta! Como me podiam odiar tanto ao ponto de fazerem aquilo? O que teria feito eu afinal para merecer aquilo?

Inesperadamente, os meus pais entraram no quarto, estacando a olhar para o meu estado terrível.

- Filha… - disse a minha mãe sem saber o que dizer perante a situação.

- Não me chames filha! – disse fechando-lhes a porta na cara.

Atirei-me na cama partida, sem saber o que pensar de tudo aquilo. Não sabia se haveria de os culpar a eles ou de me culpar a mim mesma, pois não conhecia os motivos deles. Pedia que me deixassem em paz enquanto ouvia Nicole e os meus pais a pedirem-me para abrir a porta.

De um instante para o outro, o silêncio reinou, como se todos tivessem ido embora. Então dirigi-me à porta, encostei o meu ouvido e tentei ouvir alguma voz mas nada se ouvia para além do vazio. Dado isso coloquei a chave na fechadura e rodei. Abanei a porta, dei-lhe murros, tentei tudo. Ela não abria!

De repente ouvi a Nicole, aflita, aos berros: «Foge Luciana! A casa está a arder!»

Agi rapidamente e tentei arrombar a porta.

- Nicole ajuda-me! Não consigo abri-la!

Não percebia como de um momento para o outro a casa começara a arder. No entanto, nesse momento, isso não era o mais importante, tinha que sair dali o mais rápido possível.

Enfiei a chave na fechadura com toda a força e tentei, mais uma vez, abrir a porta, mas ela não se abria de maneira nenhuma. Ouvia Nicole do outro lado da porta fazendo o mesmo que eu. Senti um enorme cheiro a queimado e fumo a entrar pelas aberturas da porta.

- Nicole, deixa-me. Foge!

- Não te posso deixar aí!

- Eu disse FOGE! Vou tentar pela janela.

Corri até à ela e abri-a. Só depois de ver me lembrei das grades que tinha do lado de fora e abandonei essa ideia. Estava completamente isolada, não havia nenhuma forma de fugir dali. Começava a sentir o ar a aquecer cada vez mais e a minha respiração a ficar mais difícil ao decorrer de cada segundo.

- SOCORROOOO ! – gritei com todas as minhas forças, mas já ninguém estava dentro de casa.



O fumo continuava a entrar e já conseguia ouvir o som das chamas a aproximarem-se. Tentei partir as grades mas começava a perder os sentidos. 
Não sabia o que fazer até que ouvi alguma coisa vinda do lado de fora. Matias estava a trepar até à janela e amarrava agora as grades com uma corda. Não sabia qual era a ideia dele, mas a única coisa que queria era sair dali. As chamas já tinham alcançado a maior parte do quarto quando quase nenhuma consciência me restava. Matias descia para o chão e amarrava a mesma corda ao seu carro. De seguida entrou nele e acelerou a fundo, arrancando as grades de imediato. O fumo começava a entalar-se na minha garganta. Não parava de tossir. Matias trepou novamente a janela e berrou bem alto: “Dá-me a tua mão!”. Assim o fiz e ele puxou-me para si, agarrou-me e saltamos.

Atirei-me para o chão sem fôlego e Matias moveu o meu cabelo para os lados, respirou fundo e fez-me respiração boca-a-boca.

A Nicole e os meus pais encontravam-se em meu redor, preocupados. Mickael acabava de chegar, assustado com o que acontecia. Olhou para Matias e reagiu sem pensar, pensando que nos beijávamos e empurrou-o.

- Pára parvalhão! Ela não está a conseguir respirar! – exaltou-se Matias, continuando de seguida com o que estava a fazer.

Acordei sobressaltada e respirei aceleradamente, reparado em Matias, que estava mesmo à minha frente. Agradeci abraçando-o.

- Salvaste-me a vida!

Mickael ligou para os bombeiros e Nicole abraçou-me, feliz por me ver bem.

- Nicole, o que aconteceu? Como é que isto foi acontecer? – perguntei aflita, observando toda a casa em chamas.

- Foi um acidente. Eu estava a discutir com os pais… Eles estavam arrependidos por terem feito aquilo às tuas coisas mas depois começaram a pôr as culpas para cima de mim. Eu não reparei nas velas que estavam acesas em cima do balcão do corredor e sem querer deitei-as ao chão. Quando dei conta do que tinha feito, já estavam as carpetes a arder. Tentamos apagar, mas já se alastrava por todo o lado. Só tive tempo de pegar em algumas coisas importantes e de tentar ajudar-te. – disse Nicole a gaguejar. - Nem quero imaginar o que te podia ter acontecido se o Matias não arrancasse as grades para te tirar dali.

- Nem sei o que lhe dizer… obrigada por tudo. – agradeci-lhe.

Sem dizer uma única palavra, Matias virou-me as costas e foi-se embora.

- Precisas de descansar, estás muito fraca. - disse Mickael. 

- Eu estou bem.

- Luciana – Chamou Nicole com o telemóvel na mão – É a Alice. Já lhe disse o que aconteceu, ela quer falar contigo.

Atendi. Alice morria de preocupação. Acalmei-a garantindo que, graças ao Matias, estava tudo bem e que ninguém se tinha ferido. Como agora não tínhamos casa, Alice disse-me que podia voltar para casa dela, juntamente com Nicole e os meus pais, pois não havia qualquer problema. A casa dela é bem grande e tem espaço para muita gente. Sem qualquer outra alternatica, aceitei a oferta e falei disso a Nicole. Não sabia sequer o que dizer aos meus pais depois daquilo tudo. Entretanto vieram falar comigo.

- Luciana, perdoa-nos. – disse o meu pai. – Fui eu o principal responsável por aquilo que viste. Sabes que quando a raiva me possui perco a cabeça e não sei o que faço. O mesmo aconteceu com a tua mãe.

- Estamos muito arrependidos. – disse a minha mãe. – Naquele momento tínhamos razoes para agir assim mas agora compreendemos que tu tiveste também razoes para ter dito o que disseste. Todos nos exaltamos demais.

- Mas afinal o que aconteceu para a nossa relação ficar assim?

Explicaram-me tudo. Fiquei sem palavras ao saber que estavam separados.

- Porque não me contaram logo?

- Tínhamos medo. O médico avisou que não devíamos dar demasiadas informações e que tu te devias lembrar das coisas sozinha.

No fundo achava que ultimamente me tinha lembrado de algumas coisas, mas através de sonhos.

Durante o resto do dia instalei-me em casa de Alice onde fiquei várias horas a conversar com Mickael. Agora que sabia que os meus pais estavam deparados, ambos voltaram às suas vidas sem terem de fingir que estavam juntos. O meu pai comprou um apartamento para ele e a sua namorada e a minha mãe voltara para a sua casa em Coimbra. Nicole tinha decidido ficar comigo em casa da Alice pois já eramos adultas o suficiente para vivermos na ausência dos nossos pais.

Matias evitava-me. Era difícil de o conseguir entender. Parecia que estava sempre ausente mas sempre que precisava estava presente, pronto para me ajudar. De repente lembrara-me do beijo que dera a Mickael quando o vi naquela manhã. Se Matias dizia ser a minha sombra de certeza que assistira a isso. Sentia receio pelo que ele podia fazer. A mente dele era um autêntico mistério!

4 comentários:

  1. This house is on fiiiireee , this house is on fireee (tentativa de imitar a cançao da alicia keys). Fui

    Ass: tu sabes quem é ahahah

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