segunda-feira, 29 de junho de 2015

Capítulo 18 – O Colar

Embora assustados com o que acabara de acontecer, tínhamos que dormir pois já não era nada cedo. Mickael dormiu no meu quarto. Não queria adormecer, pois tinha medo que os homens voltassem para me fazer mal.
A meio da noite, lá estava eu a ter outro pesadelo. Mickael acordou sobressaltado com o meu barulho. Estava a falar sozinha e a gritar.
Acordou-me e eu levantei-me da cama atemorizada. Só não caí no chão porque Mickael me agarrara.

- Calma, calma! Foi só um pesadelo. – Tentou acalmar-me.

Reparei que estava com a cara húmida, como se tivesse chorado. Todo o meu corpo estava suado. Olhei para ele, desorientada. Por vezes custava-me distinguir os sonhos da realidade.

- Não vales nada! És um monstro! – Desatei a chorar, queria bater-lhe.

Ele agarrou-me os braços e tentou pôr-me calma.

- O que se passa contigo? Foi só um sonho!

- Larga-me!

- Acalma-te e eu largo-te.

Parei de chorar. Ele largou-me e eu sentei-me na extremidade da cama, confusa.

- O que foi isto? – Observava-me atentamente.

Apenas minutos depois respondi.

- Desculpa… Estou tão farta destes pesadelos. Alguns correspondem ao meu passado, outros são apenas coisas que a minha imaginação cria. Como posso distingui-los? Isto tira-me do serio! Apenas queria lembrar-me de tudo de uma vez!

- Tem calma. Está tudo bem. – Virou-se para mim e abraçou-me até eu respirar de forma mais calma.

O silêncio que se instalou fez-me semicerrar os olhos e reencontrar a serenidade.

- Com que sonhaste?

- Contigo. Estavas armado e mataste o Matias.

Surpreendeu-se com a resposta.

- Não podes confundir sonhos com a realidade. Se apenas alguns correspondem a pormenores do teu passado, o melhor é não acreditares em nenhum. Dá tempo ao tempo. Tu vais lembrar-te de tudo, só tens que ter calma. – Beijou-me a testa. - Vá, tenta adormecer. Ainda é muito cedo.

Deitei-me e adormeci com Mickael a acariciar-me a face. 



Quando voltei a acordar, observei-o a dormir ao meu lado. Nesse momento reparei no quanto ele parecia perfeito enquanto dormia. Assemelhava-se a um autêntico anjo. Um Deus grego! A vontade de o beijar invadiu-me e assim o fiz, acordando-o num susto.

- Desculpa. – Soltei uma gargalhada.

Ele olhou para mim apaixonado.

- Desculpa? Esta é a melhor forma de alguém acordar! – Retribuiu-me o beijo.

- Tive outro sonho agora. – Captei a sua atenção. – Desta vez mais calmo. Sobre a minha ma… - Fui interrompida pelo som da campainha a tocar.

Caminhei rapidamente até ao pé da porta. Lembrei-me dos bandidos da noite passada e arrepiei-me. Espreitei medrosa pela janela e vi que era Matias.
Abri a porta e vi que trazia o Scarpy ao colo. Sem esperar um segundo agarrei-me ao cão, radiante de alegria.

- Scarpy! Oh, já tinha tantas saudades dele! Onde ele estava? – Perguntei para Matias, sem parar de beijocar o cão.

- Em minha casa. Tenho que admitir que me apeguei a ele mas ultimamente tem estado demasiado triste, nem sequer comia. Adivinhei que tinha saudades tuas!

O Scarpy lambia-me a cara, empolgado por me ver, no momento em que Mickael entrou na cozinha e estacou a olhar para nós.

 - Matias, que bom ver-te. – Ironizou, sorrindo sisudamente.

- Igualmente. – Alinhou Matias.

Olhei para os dois e não evitei largar um «Santa paciência…» em tom de suspiro.

- O Matias já estava de saída. – Disse depois. - Veio apenas devolver-me o Scarpy que pelos vistos tinha saudades minhas. – Este corria alegremente à minha volta.

- Espera. Queria falar contigo… - Começou Matias, quando Mickael largou um olhar impaciente.

- Não temos nada para falar Matias. Adeus, e… obrigada por trazeres o Scarpy. – Disse fechando-lhe a porta.

Virei-me para trás e o Mickael continuava em estátua, a observar-me.

- Querias o quê? Fiquei feliz por ele ter trazido o Scarpy. Não consigo fingir infelicidade.

- Não disse nada!

- Não é preciso, sei bem o que estas a pensar.

- Confio em ti. Só peço que não esqueças o que prometeste.

- E vou cumprir! Tu sabes que eu cumpro sempre o que prometo.

- Bom diaaaaaa! – Alegrou Nicole que acabara de acordar. – Dormiram bem?

- No meu caso seria um milagre. Mas por acaso acordamos bem-dispostos. – Pisquei o olho a Mickael fazendo Nicole soltar uma gargalhada perversa.

- Bem-dispostos até alguém aparecer e destruir o momento. – Concluiu Mickael.

- Oh! – Exclamou Nicole, reparando no Scarpy - O Matias trouxe-o? Finalmente! Até pensei que tinha decidido ficar com ele para te substituir. - Disse para mim, rindo-se. - E então qual foi o sonho que tiveste hoje? Acho que ouvi berros durante a noite…

Fiquei séria.

- O primeiro pareceu uma piada de mau gosto pregada por mim mesma. Sonhei com o Mickael completamente descontrolado com uma arma na mão, a alvejar o Matias. A última coisa que queria era que alguém se magoasse por minha causa. Fiquei tão irritada que mesmo depois de acordar queria bater ao Mickael! O segundo foi sobre a nossa mãe. Não sei porquê, mas acho que devíamos falar com ela sobre o que aconteceu ontem...

- Falar com quem? – Questionou Alice, ensonada, que acabara de entrar na cozinha, direta ao frigorífico.

- Com a Constança. No sonho eu tinha-a apanhado a esconder algo numa caixa. Perguntei-lhe o que era e ela respondeu-me que era algo demasiado importante para eu poder saber, garantindo-me que quando fosse mais velha me explicava tudo sobre aquilo.

- Já te disse que não devias considerar como lembranças reais tudo aquilo que te aparece nos sonhos. - Alertou Mickael.

- Eu sei! Mas é uma hipótese. Por isso é que digo que devíamos falar com ela. Talvez isso seja real, e se for, o que ela escondia pode ser o que os bandidos querem roubar!

- Sim, eu concordo. É preferível esclarecer as dúvidas. – Anuiu Alice. - Podemos ir a casa dela esta tarde.

- Então pronto. De tarde arranjem-se que eu vou a casa buscar o meu carro. Assim cabemos todos.

Depois de almoçar e da tarde iniciar, assim o fizemos. Durante o caminho, a viajem ia animada.

- Vais confortável Lúcia? – Perguntou Mickael, sorrindo para Nicole e esta começa-se a rir como uma desnorteada.

- O que foi? – Observei-os sem perceber.

- Quando eramos bebés os nossos pais chamavam-te Lúcia e tu odiavas, entravas em histeria e começavas a correr pela casa toda! – Disse Nicole contendo o riso. – Desculpa, contei isso ao Mickael anteontem... Assim como outros episódios interessantes da tua infância.

Olhei para os dois, envergonhada.

- Olha que da tua infância também me lembro bem de certos acontecimentos! – Ameacei em tom de brincadeira.

Mickael e Nicole continuaram-se a rir como dois tolos e Alice olhava -os como se estivesse a observar dois autênticos retardados.

Com isto chegamos ao nosso destino. Saímos do carro e aproximamo-nos da casa. Bati à porta três vezes e só depois percebi que esta estava apenas encostada. Então entrei. A casa era muito bonita. Toda ela estava bastante bem decorada, com quadros, jarros de flores, carpetes coloridas, num ambiente aconchegador. Felizmente, a minha mãe sempre teve bons gostos.

Entretanto Constança apareceu naquele compartimento e assustou-se com a minha presença, mas mal reparou que era eu, deu-me um pequeno abraço barrado de felicidade por me ver e convidou-me a sentar.

- Desculpa ter entrado sem avisar…

- Não faz mal. – Disse a minha mãe quando Mickael, Nicole e Alice entraram inesperadamente. – Hmm, afinal temos mais visitas!

- Mãe, se eles te incomodarem, é natural! – Disse Nicole rindo-se. - Nós fomos obrigadas a habituar-nos.

- Que piadinha! – Comentou Alice sorrindo.

Todos se sentaram e Constança ofereceu um chá a cada um, questionando qual o propósito da nossa visita.

- Bem, vou ser direta. – Comecei. - Eu e o Mickael fomos perseguidos e confrontados ontem à noite e foi, de certeza absoluta, pelos mesmos homens das outras vezes.

Constança observou as manchas feias que se notavam entre os espaços sem roupa e olhou para mim estupefacta. Talvez tenha sido um pouco direta demais nas minhas palavras.

- Mas eles agrediram-vos?! O quê que eles vos fizeram?

- Ahm… Não foram nada delicados na forma como nos trataram… Mas isso não é o mais grave, nem o motivo que nos trouxe aqui. Eles ameaçaram-nos. Disseram-me que eu tinha algo que eles procuravam há muitos anos e apesar de lhes ter garantido que não sabia do que falavam, insistiram e ameaçaram que na próxima vez que nos apanhassem não nos deixariam escapar vivos sem lhes entregar o que eles querem. Pensei que talvez nos pudesses ajudar, não só porque és minha mãe, mas também porque tive sonhos que podem estar relacionados com lembranças verdadeiras.

Constança olhou para todos nós, pensativa e distante.

- O que nós pensamos foi que… Por eles tanto procurarem, teria que ser algo valioso. Só pode ser algo especial que não se encontre facilmente. No meu sonho tu escondias algo de mim. Algo que eu não podia saber. Queria que tu me explicasses tudo o que sabes sobre isto.

- Algo valioso?...

- Sim, só pode ser! Os meus pesadelos foram exatamente sobre isso… Lembro-me… Lembro-me de ter visto um colar com grandes diamantes cravados. Mas isso foi só no meu sonho, se calhar nem existe. Era isso que queria esclarecer.
Por vários segundos, Constança sentiu-se perturbada e distante de todos, sussurrando para si mesma «Não pode ser… Não pode ser isso.».

- Está se a sentir bem? – Preocupou-se Alice.

- Sabes de alguma coisa? – Questionou Nicole – Por favor mãe, se sabes conta-nos! Estamos preparados para tudo. Temos que perceber o que se está a passar!

- Bem… há uma coisa que vocês não sabem. – Falava calmamente para mim e para Nicole. – A nossa família tem, desde séculos, uma peça intensamente valiosa que até hoje tem passado de pais para filhos. Pertenceu à minha visavó, passou para a minha avó que ofereceu à minha mãe e quando a minha mãe morreu, passou para mim…

- Então é isso! – Berrou Nicole. – Obviamente que é isso que eles querem. Porque nunca nos contaste?

- Bem, vocês não eram ainda muito responsáveis. Não podia revelar algo tão precioso a crianças. Fiz isso para prevenir o que está a acontecer. Não sei como não me apercebi mais cedo que pudesse ser isso que eles procuravam. Pensei que ninguém soubesse disto para além da nossa família.

- Mas que peça valiosa é essa? – Perguntei.

- É um colar… Um colar mesmo muito antigo, e é exatamente como o colar que tu descreveste do teu sonho. Todo ele é feito de ouro e pedras preciosas, muito raras de se encontrar. É muito pesado e tem muita importância simbólica e sentimental.

- Mas se tu nunca nos disseste nada sobre esse colar, como é que eu sonhei com ele?

- Bem… Eu nunca vos falei dele, mas cheguei a mostrar-vos. Vocês eram ainda muito novas, por isso devem ter-se esquecido disso.

- Sim, eu lembro-me desse colar! – Disse Nicole – Mas não me apercebi que era tão valioso. Nunca mais me lembrei disso sequer.

- E onde é que ele está agora? – Perguntou Mickael.

- Provavelmente coberto de cinzas… Eu nunca fui fã de muito dinheiro… Nunca liguei a isso, portanto só me preocupei em esconder na nossa antiga casa, num sítio único onde ninguém descobriria, para que não fosse roubado. Não contei a mais ninguém da família porque de certeza que haveria alguém que o ia querer vender e apoderar-se da fortuna dele. Eu não podia deixar que isso acontecesse. A minha mãe pediu-me, antes de morrer, para o guardar para o resto da minha vida e não contar nem mostrar a ninguém. Eu prometi-lhe que o guardaria, e que quando chegasse o dia de partir deste mundo, ofereceria a uma de vocês as duas.

- E agora? O que fazemos? A casa incendiou-se, nunca vamos encontrar o colar. – Disse Mickael preocupado.

- E mesmo que encontrássemos não podíamos entrega-lo a uns bandidos! Aquele colar é sentimental para a Constança! – Disse Alice para Mickael.
De repente Constança enterrou a cabeça nas suas mãos e desatou a chorar.

- Mãe… então? Tem calma, nós não vamos dar o colar a ninguém. Aqueles bandidos um dia vão desistir de o procurar. – Disse eu, tentando acalmá-la.
- Não é isso… esta conversa fez-me lembrar a morte dos meus pais… Também foi por causa desse maldito colar!

- Foi por causa disso que os nossos avós morreram? – Perguntei sem acreditar.

- Sim… Foi uma tragédia! O meu pai descobriu esse colar escondido numa caixa e ficou zangado pela minha mãe nunca lhe ter dito nada… Nós eramos muito pobres, e o meu pai culpou a minha mãe… Disse-lhe que vivemos sempre naquela miséria por causa dela. Mas ela não podia quebrar a promessa que fês aos pais dela. A mesma promessa que eu fiz à minha mãe… – Fez uma breve pausa para limpar as lágrimas e prosseguiu. – Agora que penso a história da nossa família é marcada de tragédias atrás de tragédias. E tudo devido à porcaria desse colar! O melhor é mesmo entregar-lhes.

- Mas mãe… Estás a querer dizer que… que o nosso avô, matou a nossa avó? – Perguntou Nicole aterrorizada.

Constança recomeçou novamente a chorar.

- Sim filha… - Disse ela. - O meu pai matou a minha mãe. Foi um acidente, mas se aquele colar não existisse nada daquilo tinha acontecido… Assisti a tudo isto, escondida, e quando o meu pai percebeu isso o sentimento de culpa preencheu-o por completo e decidiu suicidar-se.

O silencio do choque desta notícia fez estremecer o ambiente.

- Não posso acreditar. – Falou Nicole a tremer. – Então porquê que não destruíste logo esse colar, mãe? Devias tê-lo destruído, ou vendido! Não precisamos dele para nada! 

- A minha mãe morreu para salvar o colar, se eu o destruísse ela teria morrido em vão…

O silêncio ecoou novamente por toda a casa durante alguns minutos que pareceram horas. Apenas se ouviam os soluços do choro mudo incontrolável de Constança. Tentava conter-se para que o nosso choque perante tudo aquilo não fosse tanto.

- Mãe, nós vamos andando está bem? – Disse eu com delicadeza. – É melhor voltarmos aqui mais tarde para falarmos sobre isto com mais calma. Se calhar nem devíamos ter vindo… Se soubesse que te íamos por nesse estado…

- Não, não! Fizeram muito bem em vir cá vir. Custou-me muito falar sobre tudo isto, mas de qualquer forma, não iria aguentar continuar a guardar tudo isto só para mim por muito mais tempo… Mais tarde ou mais cedo teria que vos dizer tudo.

- Bom, ainda bem então. – Disse Nicole.

- E sobre os bandidos… Devíamos tentar encontrar o colar no local do incendio da nossa antiga casa e se não o encontrássemos… talvez o melhor fosse mudar-nos todos para bem longe daqui. Todos nós. Talvez pudéssemos aproveitar a minha antiga casa de Lisboa.

- Por mim tudo bem. – Assenti.

- Constança, muito obrigada, mas acho que no meu caso não preciso de ir viver junto de vocês. Não quero incomodar, e visto que não sou da família, eles não me devem fazer mal nenhum.

- Não, o melhor é virem todos. – Insistiu ela – Se eles forem psicopatas por esta altura já sabem onde é que todos nós moramos, incluindo os amigos e conhecidos. Não podemos arriscar que aconteça alguma coisa a alguém que não tenha culpa nenhuma.

- Esta bem… - Aceitou Alice. – Então amanha bem cedo reunimo-nos nas ruínas da antiga casa para procurar o colar.

- Mesmo bem cedo, para que não sejamos vistos por ninguém. Temos que ter muito cuidado!

Com isto, despedimo-nos de Constança e regressamos a casa, preparados mentalmente para o pior.

domingo, 28 de junho de 2015

Capítulo 17 – Pequenos Ruídos

Pelo facto de ser Lua-Nova, a noite estava mais escura do que nos outros dias e apesar de já estarmos perto de casa, sentia-me amedrontada. As árvores que nos rodeavam transmitiam-me, cada vez mais, lembranças diluídas de uma suposta agressão do meu passado.

De repente assustei-me com um ruído mesmo atrás de mim. Virei-me para trás de rompante. Mickael agarrou-me, estranhando a minha atitude.

- O que foi? – Perguntou ele sem perceber.

- Não ouviste nada?

- Não. - Olhamos em redor. – Vá, anda que a Alice já deve estar à tua espera para jantar.

Continuamos a caminhar e eu continuei a pressentir os mesmos ruídos, mas desta vez mais longínquos. Talvez fossem efeitos do medo que aquela escuridão me provocava.

Olhei novamente para trás. Desta vez parecera-me ver sombras de outras pessoas.

- Tens a certeza que estás bem? O que se passa?

- Nada. Não ligues.

Segundos depois espreitei para trás e vi um grupo de homens. Lembrei-me dos homens que me perseguiam que Alice, Nicole e a minha mãe me tinham falado e das imagens que me vieram à cabeça no início da tarde. Seriam eles? Cada vez estava mais assustada.

- O que se passa Luciana? Diz de uma vez por todas. Estás-me a deixar preocupado.

Encostei-me disfarçadamente a Mickael e sussurrei-lhe ao ouvido: «Acho que estamos a ser perseguidos!». Ele olhou em redor e respondeu-me, num tom de voz normal, que não estava ali ninguém. Olhei novamente e a rua estava deserta.

- Tenho a certeza que vi um grupo de homens!

Mo momento em que falei percebi que tinha falado alto demais. Num ápice, vários homens fugiram de trás das árvores e colocaram-se à nossa frente, compondo uma barreira e impedindo-nos de continuar a caminhar. Outros fizeram o mesmo por trás de nós e em menos de 5 segundos ficamos sem saída possível, completamente encurralados!

- O quê que vocês querem? – Perguntou Mickael, tentando manter a calma.
Ninguém respondia, e eu olhava para eles, apavorada.

Irritado com a situação, Mickael agarrou a minha mão e caminhou em frente, empurrando dois dos homens. Como era de esperar, em nada isso ajudou. Os homens que estavam por trás de nós agiram rapidamente agarrando os braços de Mickael e impedindo-o de se movimentar. Aproveitei o momento para pegar num pedaço de tronco partido que se encontrava no chão e atirei-o contra um dos homens mas de nada isso protegeu: Um outro homem agarrou-me pelos cabelos e atirou-me contra a parede de uma casa abandonada. De todos os homens que nos rodeavam naquele momento, aquele era o que conseguia assustar mais e, pelos vistos, o mais violento de todos. Tentei fixar a cara dele mas estava demasiado assustada. Só queria salvar o Mickael e desaparecer dali.

- Deixem-na em paz! – Gritou Mickael furioso.

- Então? Tu parecias tão corajoso. Afinal tens pontos fracos. – Respondeu o homem que me agarrara pelos cabelos, olhando para mim arrogantemente.
Agarrou-me novamente de forma brutesca, desta vez pelo braço para me por de pé e apertou-me o pescoço. Não conseguia respirar.

– Larga-a! – Berrou Mickael tentando soltar-se.

- Estás-me a dar uma ordem? – Perguntou o homem com uma gargalhada. - Karlles, ele é teu.

Um outro homem virou-se para Mickael e deu-lhe um forte murro no estômago fazendo-o encolher-se de dor. O que me apertava a garganta libertou-me e caí no chão, ofegante.

- És um fraco! – Berrou Mickael – Sem os teus amigos dava cabo de ti! – Estava fora de si.

O mesmo homem pontapeou-me.

- Quanto mais me irritares pior é! – Avisou.

- O quê que vocês querem de nós? – Desesperou Mickael.

- Quero o que vocês me escondem! – Fez uma pausa. – Pois é. Há anos que o procuramos e finalmente descobrimos quem é que o tem.

- Nós não temos nada! – Vozeei.

Ele aproximou-se de mim e olhou-me altivamente.

- Não me faças rir! És tu mesma que tens o que queremos, espertinha. Tu sabes onde está e nós não te vamos deixar em paz enquanto não nos disseres.

- Já disse que não tenho nada. Não sei do que estão a falar. Deixem-nos!

Por mais impressionante que fosse, fomos libertados. O mais arrogante deles ordenou aos outros que nos largassem e desatamos a correr.
Ao longe, o homem berrou:

- Desta vez deixo-vos escapar vivos, mas não creio que na próxima vez isso aconteça se estiverem de mãos vazias!

Ouvimos os outros homens a rirem-se estupidamente e continuamos a correr, sem abrandar.

Mal os deixamos de os ouvir, olhamos para trás e percebemos que já tinham desaparecido. Paramos então de correr e abraçamo-nos ainda assustados com o que tinha acabado de acontecer.


Já à porta da casa de Alice, esperamos que nos abrissem a porta, confusos. Aconteceu tudo tão rápido que não sabíamos sequer o que pensar.

Mal entramos dentro de casa, Nicole e Alice paralisaram com o nosso aspeto.
Tremíamos. O nosso olhar transmitia terror e feias nódoas de sangue estavam à vista. Revelamos tudo o que aconteceu e elas ouviram-nos até ao fim, apavoradas, observando cada pisadura.

- Está na cara que são os mesmos homens que a tentaram matar! – Exclamou Alice para Nicole – Não percebo porquê que eles fazem isto! – Disse agora virada para mim. – Por diversão?

- Eles disseram que eu tinha algo que eles procuravam há muito tempo.

- Eu não percebi nada do que eles estavam pra lá a dizer! – Disse Mickael, ainda enfurecido.

- Mas o quê que eles procuravam?

- É isso que não percebemos! Eu disse-lhes que não tínhamos nada e eles riram-se.

- Estranho…

- Se calhar roubei-lhes algo. – Propus. – Das coisas que já descobri sobre o meu passado, neste momento acho tudo possível.

- Oh! Não digas disparates! – Indignou-se Nicole.

- Quem te garante o contrário, Nicole? Posso ter feiro coisas terríveis que nenhum de vocês saiba!

- Pára com isso! – Exigiu Alice. - É normal que sintas que não te conheces a ti mesma, mas nós conhecemos e sabemos que tu não és assim. Sempre foste amigável com toda a gente. É impossível teres-lhes roubado o que quer que seja.

- Se vocês repararem, de mim só sei aquilo que vocês me dizem…

- E basta! Conhecemos-te melhor do que aquilo que imaginas. Tenho a certeza que tu e o Mickael não têm culpa nenhuma do que está a acontecer. Não te estou a ver a meteres-te com pessoas como eles, sempre tiveste juízo!

- O que eles querem deve ser valioso. Talvez tenhas algo que não te lembres de ter encontrado.

- Se ela tivesse encontrado, penso que nós saberíamos. – Disse Nicole - A não ser…

- A não ser o quê? – Questionei.

- A não ser que tivesses encontrado essa tal coisa valiosa enquanto vivesses com o Matias.

- É só uma questão de lhe perguntar… - Disse Nicole.

- Uma coisa é certa. Se nós não lhes dermos o que eles querem vai ser muito pior…

- Não te massacres – Disse Mickael acarinhando-me – Agora precisamos é de repousar. Só temos que ter cuidado e evitarmos andar em sítios escondidos ou com pouca gente para que eles não nos apanhem novamente. Pelo menos enquanto não descobrimos o que eles querem.

Com isto Mickael levantou-se da cadeira, despediu-se de nós e preparou-se para sair de casa, mas Alice impediu-o.

- A estas horas não vais a lado nenhum. Já é tarde e eles podem estar por perto. Podes ficar cá a dormir.

- Não é preciso, não quero incomodar…

- Fica. – Pedi – É demasiado arriscado.

- Está bem. – Acabou por concordar.

sábado, 27 de junho de 2015

Novo Blog!

Olá :)

A todos os que me seguem neste blog quero, desde já, agradecer. Mas mais do que isso quero que me conheçam melhor e, talvez, passar a ter uma oportunidade de conhecer alguns de vós de uma forma mais especial. Para que isso seja possível tenho, a partilhar com todos vocês, um novo blog que acabei de criar, em que eu não partilharei nenhuma historia, mas sim pequenos bocados de uma historia - da minha história de vida. É um blog onde, através de várias formas de arte - desde desenhos/pinturas, poemas e textos, imagens tiradas por mim ou através da música - irei-vos dar a oportunidade de conhecerem um bocado de um lado meu que nunca partilhei com ninguém e que jamais partilharia totalmente com quem quer que fosse. A vocês dou uma oportunidade, pois o meu outro objetivo é transmitir mensagens sobre vários assuntos que eu considero interessantes, ao máximo de pessoas possíveis.
No entanto aviso desde já que só conseguirão interpretar da forma certa as coisas que vou publicar, aqueles que possuírem uma enorme sensibilidade ou sejam parecidos comigo. Dessa forma, através dos contactos que vou deixar no blog, poderei, também eu, talvez conhecer algum de vocês.

Espero contar convosco para este desafio!

CFly


segunda-feira, 15 de junho de 2015

Capítulo 16 – O piquenique


- Bom dia! – Disse Mickael beijando-me alegremente.

- Já vi que acordaste bem-disposto. – Disse ainda deitada.

Encostou-se a mim, beijou-me o pescoço e sussurrou no meu ouvido: «Desejo-te!». Fez-me arrepiar. Aquele seu lado sexy enlouquecia-me. Empurrei-o para o outro lado da cama e pus-me em cima dele.

- Eu digo-te o que desejavas! – Brinquei, beijando-o intensivamente.

De seguida voltei a deitar-me. Ele vestiu-se e começou a arrumar as coisas desarrumadas por toda a barraca.

- Anda lá, sai da cama preguiçosa! – Puxou-me pelas pernas.

- Deixa-me ficar só mais um bocado… – Pedinchei.

Pegou em mim ao colo e começou a correr em direção ao mar, fazendo-me berrar.

- Não! Não faças isso! Já estou acordada!

Chegando ao mar, parou e pôs-me no chão.

- Para a próxima dás um mergulho de cabeça!

Ri-me dele e lavei a cara no mar. Depois fui ajuda-lo a pôr as coisas dentro dos sacos e a desmontar a cabana. Como estava toda encaixada e coberta de milhões de folhas e flores, deu mais trabalho a arrumar do que o resto das coisas.

- Não tens que me ajudar. A surpresa era para ti por isso não faz sentido que te canses por causa dela.

- Não te preocupes, não estou cansada. Se arrumarmos os dois é muito mais rápido.

Depois de tudo arrumado, transportamos as coisas para a cave da casa da Alice, para que eu pudesse ficar com recordações. Depois despedimo-nos e deixei-o ir para casa descansar.

Quando entrei na casa, que já considerava como a minha própria casa pelo facto de viver juntamente com a minha irmã e a minha melhor amiga, Nicole não me deixou fazer nada enquanto não lhe contasse tudo o que se passara. Assim o fiz e enquanto falava do que correra bem, ela ouvia-me animadíssima. No entanto, mal acabei de contar o que acontecera quando Matias apareceu, o entusiasmo dela desencaminhou-se.

- Será que esse rapaz só aparece para estragar as coisas? – Resmungou zangada.

- Não é bem assim. Ele veio com boas intenções.

- Com que boas intensões viria ele para uma surpresa realizada pelo teu namorado? Aposto que fez de propósito para que o Mickael se chateasse contigo!

- O Matias que conheço não é assim. Aliás… ele ainda nem devia saber que nós namorávamos!

- O Matias que conheces? Já te lembraste dele?

- Não… Mas as conversas que já tive com ele já deram para perceber que é um bom rapaz.

- Seja como for… Tu como namorada do Mickael devias respeita-lo, em vez de te deitares a ver “estrelinhas” com o Matias.

- Somos só amigos, não fizemos nada de mal!

- Eu acho que ela faz muito bem, o Matias é um bom rapaz. – disse Alice que acabara de entrar na sala.

Olhei para elas as duas.

- E eu acho que vocês já se estão a meter demasiado na minha vida! Desculpem lá mas quem sabe quem é melhor para mim sou eu. – Bufei, começava a ficar irritada.

Sentei-me no sofá a ver um pouco de televisão.

Na verdade não tinha a certeza de quem seria o melhor para mim. Mickael tinha razão. Eu não sabia o que queria! Tinha a certeza que amava o Mickael, mas uma parte de mim ficava diferente com a presença do Matias. E claro que a Nicole e a Alice a tentarem-me convencer para caminhos opostos não me ajudava nada. Apenas faziam com que os meus sentimentos ficassem mais confusos. Se elas continuassem com aquilo ia dar em doida!

Entretanto a campainha tocou. Por momentos pensei que seria Matias. Abri a porta e fiquei surpreendida. Mesmo à minha frente estava a minha mãe a sorrir para mim.

- Não estava à espera de uma visita tua. – Cumprimentei-a e pedi que se sentasse comigo no sofá.

- Eu sei. Mas preciso mesmo de falar contigo. Depois da conversa que tivemos, depois do incendio, comecei a sentir uma culpa enorme por tudo o que te aconteceu ao longo deste tempo. Eu sei que já me perdoaste, mas continuamos tão distantes…

- Oh mãe… Deixa-te disso. Se eu disse que já te perdoei é porque já! É claro que continuo desconfiada, durante este tempo conheci uns pais que não eram os que eu conhecia. Mas está tudo bem. Eu também tive culpa do que aconteceu. Dizer que preferia ser órfã do que vossa filha é a pior coisa que se pode dizer a uns pais que me amam. Nunca vos devia ter dito o que disse. Todos cometemos erros!

Constança demorou alguns segundos a responder. Eu sentia a minha cabeça a latejar, com dores cada vez mais intensas mas tentei ignorar-las.

- … É que depois do incêndio e depois de já teres ido para a casa da Alice encontrei-me com o Matias na rua. Disse-me que tu já sofreste muito por minha causa e por causa do teu pai. Fez-me pensar sobre isso e percebi que tem toda a razão. Por isso vim aqui esclarecer melhor as coisas. Mas se tu me garantes que está tudo bem, fico muito mais descansada.

- Mais uma vez ele, a tentar ajudar-me…

- E quero que saibas que o teu pai não veio aqui comigo, esclarecer as coisas contigo, porque teve que ir trabalhar. Arranjou um emprego numa fábrica de brinquedos e tem andado muito ocupado. De qualquer forma ele não teve culpa de nada do que se passou. Ele e a Nicole apenas se limitaram a fazer o que eu mandava. Desculpa Nicole, se fui drástica contigo…

- Não faz mal, naquela altura eu não me dava nada bem com a Luciana, por isso não me importava. Também estou arrependida. Mas ainda bem que agora já está tudo bem. – disse Nicole.

Constança abraçou-nos às duas e Alice, que espreitava pela porta, assistia aquele momento, sorrindo para nós, comicamente quase emocionada.

- Bom, eu ainda não sei se vou continuar em Coimbra ou não. Ultimamente sinto que este não é o meu lugar. Sem o teu pai sinto saudades dos ares de Lisboa que eu tanto gostava em solteira. Mas por outro lado, não suporto a ideia de ficar tão longe de vocês. Aqui vocês podem-me visitar sempre que vocês quiserem ou precisarem de alguma coisa…

- … E você será, também, sempre bem-vinda nesta casa! – disse Alice juntando-se a nós.

Constança agradeceu, despediu-se de todos e foi-se embora.

Sentia-me aliviadíssima por ter as pazes com os meus pais esclarecidas. Apesar de não ter as memórias presentes na minha mente, sabia agora a maior parte do meu passado. Descobrir tanta informação em tão pouco tempo tem-me, ultimamente, custado enormes dores de cabeça, mas sem dúvida que valeu a pena. Agora o que me preocupava mais eram os pesadelos que eu ainda continuava a ter. Com certeza seriam sobre o meu passado com Matias, pois ainda muita coisa acerca disso estava em mistério para mim.

Embora mais discreto, ele continuava a vir ter comigo, às escondidas do Mickael. Ele não queria que o Mickael se chateasse comigo mas também não queria deixar de me ver, por isso aparecia quase todas as noites em minha casa. Entrava sempre sorrateiramente pela janela do meu quarto e, quando eu menos esperava, aparecia de rompante para me assustar. Por mais sermões que lhe desse para parar de fazer aquilo, não adiantava de nada, pois ele adorava parecer um zombie sempre a rondar-me e a aparecer nos momentos oportunos em que eu não estava nada à espera de o ver.

Esta manhã, quando eu estava ainda deitada, ouvi-o bater levemente na janela para o deixar entrar. Fiz-lhe gestos para que fosse embora e me deixasse dormir, mas ele mostrou-me que tinha um presente na mão para mim. Deixei-o entrar e disse-lhe que não precisava de gastar dinheiro comigo mas ele ignorou o que disse e desembrulhou o presente para mim. Era uma brilhante pulseira prateada, com pormenores azul-turquesa, e com o seu nome escrito a preto. Apesar de a ter achado lindíssima, disse-lhe que não a podia usar, pois se o Mickael me visse com ela, era capaz de matar-nos aos dois.

- Eu preocupo-me com a tua segurança… – disse Matias. - … E o que menos quero é que o Mickael te volte a magoar. Por isso não te vou pedir que andes com a pulseira no pulso… - Disse pausadamente, olhando-me nos olhos. – só te peço que a guardes, para não te esqueceres da minha existência.

Ria-me sempre da forma dramática que ele falava, mas não deixava de achar encantador.
Peguei na pulseira dele e coloquei-a no meu pulso esquerdo, fazendo-o olhar-me desassossegado.

- Não te preocupes! Quando estiver com o Mickael tiro-a.

Ele fez um breve sorriso maroto e foi-se embora.

Durante a tarde, a Nicole, a Alice, o Mickael e eu, fomos até à cascata da floresta que existia ali bem perto de casa, para fazermos um piquenique. Lembrei-me de convidar o Rúben para vir connosco, pois há imenso tempo que não o via. Já sentia saudades de estar com o meu primo mais próximo!

Aquele lugar era mesmo fascinante. No entanto quando caminhei por entre as primeiras árvores, despertou-se, na minha mente, uma imagem que me atarantou: eu estava deitada no chão, suja, a sangrar, extremamente assustada e a olhar para uma pequena saída no meio das árvores, de onde se via uma luz intensa. Era semelhante aos pesadelos e à mesma lembrança que me passara pela cabeça numa manhã em que vira tudo desfocado à minha volta, devido ao que a luz demasiado intensa provocara nos meus olhos. Fiquei pensativa com essa “visão”. Era uma lembrança em que tudo indicava que tinha sido agredida. 



Já me tinham falado de perseguições mas nunca me tinham dito que fora tão agredida por alguém. Precisava de esclarecer isso. No entanto tentei ignorar esse sobressalto de 5 segundos e fui divertir-me. Mergulhamos todos no riacho e entretemo-nos a valer com a cascata. Brincávamos como autenticas crianças num recreio. Alice, que não sabia nadar, atrapalhava-se com os chapiscos de água que atirávamos para cima dela. Horas depois, com o calor que sentia, acabou por arriscar e atirar-se para a água. O Ruben, como excelente nadador, ensinou-a a nadar em três tempos. No final sentia-se tão bem na água que nem queria sair de lá!

Enquanto isto, eu e o Mickael entramos numa pequena gruta que havia por detrás da cascata e permanecemos lá a observar a água a cair, escondidos de todos. Era um lugar mesmo deslumbrante!

Depois fomos dar um passeio pelos bosques e, no final da tarde, desfrutamos do piquenique que a Alice tinha preparado para nós.



- Que delícia! Estes queques estão fantásticos… - disse o Rúben que comia uns atrás dos outros – Foste tu que fizeste? – perguntou para Alice, sem parar de meter mais para a boca.

- Come com calma! – disse eu rindo-me – Deixa alguma coisa para nós!

- Sim fui eu que fiz! – respondeu Alice espantada, pois não sabia que ele era tão guloso – E não te preocupes, podes comer os que quiseres porque eu tenho mais lá em casa. – disse rindo-se.

- Ainda bem que não os trouxeste todos! – humorizou Nicole.
Mickael comia calmamente, dizendo poucas palavras. Estava pensativo, mas eu não o quis estar a massacrar com perguntas, dei-lhe apenas um beijo na bochecha para o animar um pouco.

No final do piquenique sentei-me num tronco de uma árvore com a ajuda de Mickael, que, de seguida, se sentou ao meu lado, enquanto Alice, Nicole e Rúben foram andando para casa.

Conversamos e namoriscamos até que vi Mickael a fixar o meu pulso.

- Tens uma pulseira nova? Deixa-me ver.

Reparei que me tinha esquecido de tirar a pulseira que o Matias me dera, que dizia o nome dele. Escondi de rompante o braço atrás das costas, atrapalhada.

- O que foi? – Perguntou-me sem perceber – Luciana, deixa-me ver, qual é o problema?

Olhei para ele, embaraçada.

- O que me estás a esconder? – Perguntou irritado.

Agarrou o meu braço e olhou para a pulseira. Reparou no que estava escrito em letras pequenas e olhou seriamente para mim.

- Não me olhes assim… Ele ofereceu-me esta manhã e gastou dinheiro a compra-la, não podia recusar.

- Estás a gozar comigo? Para além de a teres aceitado andas com ela no pulso. Afinal quem é o teu namorado?

Afastou-se de mim, estava novamente com ciúmes.

- Não te preocupes… Esta pulseira não tem valor nenhum. Não ando com ela no pulso por ter sido o Matias a oferecer-me, ando com ela porque é bastante bonita. – Fiz uma pausa. - Fica bem com esta roupa…

- Eu sei como tu és vaidosa! – Sorriu.

- Vês? É assim que eu te quero ver. A sorrir! Apesar de ficares muito engraçado com ciúmes. – Ri-me.

- Está tudo bem. Se tu dizes que não tem qualquer valor para ti eu acredito. – Sorriu novamente.

Já começava a escurecer, por isso começamos a caminhar para casa. Mickael estava mudo e novamente pensativo.

- O que se passa Mickael? – Tinha que perguntar.

- Nada…

- Não digas que não é nada, estiveste todo o dia assim!

Olhou para a paisagem em nosso redor e depois desabafou.

- É o mesmo de sempre… - Disse ele fixando-me furtivamente - Ele oferece-te presentes em tua casa, o que quer dizer que te vai visitar. Eu tento evitar os ciúmes e controlar-me para não acabar por te magoar novamente. Mas não consigo evitar! Eu sei que ele pode voltar a conquistar-te. Sei que não me amas o suficiente para o conseguires ignorar por completo e sei que se ele não parar de te tentar reconquistar vai acabar por conseguir o que quer… Tenho medo que te lembres de tudo e te apaixones por ele. Não quero que me deixes!

- Isso não vai acontecer Mickael, eu já falei contigo sobre isso vezes sem conta!

- Mas eu não consigo ficar convencido disso apenas com as tuas palavras. Os sentimentos não se controlam e eu sei que tu estás com ele quase todos os dias! Como é que eu posso ficar descansado?
Fiquei surpreendida por ele ter conhecimento daquilo.

- Tens de confiar em mim.

- Não posso confiar mais do que eu confio! Nem tu mesma podes confiar em ti. Se te lembrares do que viveste com ele vais mudar. Vais-te lembrar do quanto o amavas e do quando me odiavas. Fico fulo só de pensar isto!

Fis uma pausa na conversa.

- Pronto então eu prometo-te que me vou afastar dele.

- Não quero que prometas nada que não consigas cumprir.

- Se estou a prometer é porque sei que consigo cumprir.

- Mas tens que ser persistente. Ele não vai desistir! Se ele não se afasta tens que ser tu a afastar-te dele, de vez.


Arrepiei-me com a última palavra. Não tinha a certeza se queria deixar de falar com ele de vez. Ele podia ser um ótimo amigo. Mas tinha que escolher. E escolhia o Mickael, sem se sentir constantemente com ciúmes por mim. Hoje senti que ele estava farto, e não podia permitir que ele me deixasse por causa do Matias.