sábado, 23 de maio de 2015

Capítulo 13 – Instinto Traiçoeiro

Fui acordada com o som de várias vozes a falarem. Momentos depois ouvi a porta do quarto a abrir-se. Era Nicole que me chamava.

- Luciana está aqui o Matias. Diz que não sai daqui enquanto não falar contigo e os nossos pais estão furiosos com ele. Querem tira-lo desta casa a todo o custo!

Olhei para as horas. Já passava da meia-noite. O que será que ele queria?
Levantei-me e fui até à sala. Matias estava deitado no sofá como se estivesse em sua casa, ignorando os meus pais que o mandavam sair daqui e afastar-se de mim. Disse-lhe que seria melhor falarmos lá fora e ele veio comigo.

- Antes de mais queria pedir-te desculpa por não ter acreditado em ti. O Mickael admitiu tudo. – disse depois de chegarmos ao jardim que rondava toda a casa.

- Eu sei. Ouvi a vossa discussão de ontem.

- Andas a perseguir-nos?

- Digamos que tenho sido a tua sombra desde que vieste para cá. Desculpa. Não aguento estar sem saber nada de ti. Preciso de tempo para me habituar a isso.

- Se fosse a ti punha-me um chip enquanto dormia... - gozei. - O que vieste aqui fazer?

- Visitar-te... E ter a certeza se acabaste tudo com ele.

- Sim acabei. E se não tens mais nada para dizer, podes ir-te embora.

- Não, ainda tenho mais uma coisa. Tenho provas de que podes confiar em mim.

- Não é necessário, eu acredito em ti.

- Acreditas?
- Sim. A Alice, o Mickael... Todos dizem que eramos muito felizes juntos e que tu me amavas acima de todas as coisas. Não há mais nada que me faça desconfiar de ti.

Matias arrebentou de felicidade e puxou-me até ele, beijando-me fortemente. Fiquei imóbil durante breves segundos e depois empurrei-o para longe de mim.

- Estás louco???! – berrei.     

- Desculpa, desculpa! Interpretei mal o que disseste.

- No fundo não tens culpa. - começava a conseguir compreende-lo melhor. - Eu deixei de te amar de um momento para o outro... É estranho como simples memórias podem mudar os sentimentos. Já tentei várias vezes mas não consigo amar-te…

- Não precisas de dizer mais nada. Fui um estúpido. Mas eu não vou desistir de ti, Mesmo que tu nunca mais me voltes a amar. O meu coração pertence a ti e eu vou conseguir conquistar o teu! Vou fazer-te apaixonares-te de novo, sem te forçar. Se aconteceu uma vez de certeza que pode acontecer de novo.

Larguei um sorriso por saber que Matias não ficara magoado nem desiludido com a minha atitude. Despedi-me dele com um beijo na cara para o confortar e ele foi embora confiante. Só esperava não desiludir ninguém.

No dia seguinte acordei bem-disposta como já há muito tempo não acordava. Aquela fora a primeira noite depois do acidente em que dormira bem, sem pesadelos nem sonhos. Talvez aqueles sonhos fossem uma parte da minha antiga memória que me tentava alertar da verdade. Pelo menos era exatamente o que parecia. Talvez agora, que já sabia toda a verdade sobre o Mickael e o Matias, não voltasse a ter mais sonhos daqueles.

Estava mesmo revoltada pelo que descobrira sobre o Mickael, mas, ainda assim, sentia que o amava. Sentia-me mal pelo tabefe que lhe dei e apesar de saber que me mentiu e que foi um estúpido de primeira comigo, ainda desejava que ele estivesse ao meu lado. Sentia saudades dele e o que mais queria era encontrar-me com ele, pedir-lhe desculpas e voltar para ele.

- O que tens mana? – perguntou Nicole depois de observar que estava pensativa.

- Não é nada…

- Não mintas, eu conheço-te muito bem! Conta lá o que te chateia.

Desabafei-lhe tudo o que tinha na minha mente. Desde a discussão com o Mickael à conversa com o Matias.

- Bem, se mesmo assim achas que amas o Mickael, devias seguir em frente.

- Achas? É o que eu mais quero. Mas pensar na possibilidade dele voltar a enganar-me só me dá vontade de lhe dar um tiro... E fico com medo da reação do Matias se isso acontecer, não o quero magoar.

- Faz o que achates melhor!

Precisava de tempo para refletir antes de tomar qualquer decisão. Decidi então sentar-me na relva do jardim, a pensar. Olhei para o brilho do sol escondido entre as nuvens. De seguida olhei em redor e os meus olhos, atordoados da captação de luz em demasia, viram tudo desfocado. De repente imagens perturbadoras de alguém a agredir-me violentamente invadiram a minha mente. Também nessa memória via tudo desfocado em meu redor. Sobressaltei-me. As imagens dos meus pesadelos eram muito parecidas. Tentei relaxar e esquecer isso. Observei um pássaro numa árvore que cantava alegremente para os seus filhos no ninho. Era sem dúvida uma boa inspiração para me acalmar. Depois ouvi o ranger do portão a abrir-se. Era Mickael que, sem reparar que estava ali sentada, trupava à porta de casa. Levantei-me num reflexo incontrolável e corri até ele beijando-o de saudades. Os dois rodopiamos quando Nicole abriu a porta e nos viu os dois aos beijos. Riu-se satisfeita por saber que tinha seguido os seus conselhos de seguir em frente e voltou a fechar a porta para não interromper. Os rodopios desorientados acabaram por nos fazer cair aos dois no chão.

Entretanto a minha consciência chamou-me à razão e afastei-me. Mickael olhava para mim completamente parvo.

- Bem... Eu ia-te perguntar se podíamos pelo menos ser amigos. Mas gosto da tua sugestão.

Não consegui evitar rir-me do que ele acabara de dizer.

- Eu não estou bem... Preciso de saber controlar melhor os meus instintos. Desculpa... - sentia-me embaraçada e uma fraca!

- Nunca pensei que esquecesses o que te fiz tão rapidamente. – disse Mickael ainda assustado com o meu beijo que lhe parecera, cair do céu!

- Não me esqueci! Isto foi só um descontrole meu. Não penses que iria voltar tudo a ser como antes só por causa disto.

- Luciana, eu estou completamente apaixonado por ti! Porra se sentes o mesmo porque não perdoas?

Era a tentação do pecado ouvi-lo dizer aquilo. Era tudo o que mais queria! Mas não podia. Não podia ser tão fraca ao ponto de perdoa-lo de um dia para o outro. Ele podia estar a mentir novamente naquilo que dizia.

- Porque não consigo confiar o suficiente. Preciso de tempo! Podemos ser amigos, mas dá-me espaço!

- Hoje tu é que invadiste o meu espaço. - riu-se - Tudo bem. Seremos apenas amigos... E não te preocupes, a partir de agora acabaram-se as mentiras!

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