domingo, 31 de maio de 2015

Capítulo 14 – O Quarto Fechado

O tempo escureceu e a noite chegou. Já todos estavam deitados e eu não conseguia adormecer. Mal fechava os olhos começava a pensar sobre os meus pais, que cada vez estavam piores comigo, sobre Nicole, que estava cada vez mais estranhamente meiga, mas principalmente sobre Mickael. Parecia que cada vez gostava mais dele, mas continuava a sentir receio de voltar a ter uma desilusão, e por isso optava por permanecermos amigos.

No meio de todos estes pensamentos, acabei por adormecer, e umas horas depois, acordei sobressaltada com um terrível pesadelo. Afinal os sonhos estranhos ainda não tinham acabado! Mais uma vez tinha sonhado que tinha sido brutalmente agredida e, desta vez, parecia tão real que me parecia doer todo o corpo. Depois disto não consegui mesmo dormir mais. Então levantei-me cobrindo-me com um fino robe branco e saí do quarto de bicos de pés para não acordar Nicole, que dormia ao meu lado como um bebé.

Caminhei pelo corredor em direção ao quarto que, na minha memória, sempre fora meu desde criança e que agora se encontrava trancado, sem eu saber os motivos nem ter qualquer explicação. Verificando que a porta não abria de maneira nenhuma, caminhei vagarosamente para o quarto dos meus pais e, com esperança de encontrar uma chave que pudesse abrir aquela porta, revistei silenciosamente as mesinhas de cabeceira, as cómodas e os armários. De repente, a luz do corredor acendeu-se. Vi que era Nicole e mantive-me escondida no canto escuro do quarto, quando reparei, com a ajuda da luz vinda do corredor, numa pequena e misteriosa caixa preta com riscas douradas brilhantes que se encontrava por baixo da cama onde estavam os meus pais. 

Ouvi os passos de Nicole que saíra da casa de banho e regressava agora para o quarto. Devia estar tão sonolenta que nem dera pela minha ausência. Caminhei então em frente para pegar na misteriosa caixa, quando a luz do corredor foi apagada e eu tropecei numa almofada que se encontrava na minha frente.  Deixei-me ficar no chão como um rato morto, rezando para que ninguém tivesse ouvido a minha queda. Vi o meu pai virar-se para o outro lado da cama e adormecer novamente. Rastejei pelo chão até conseguir alcançar a caixa brilhante e então, finalmente, pude abri-la. Lá dentro encontrei cerca de umas 20 chaves! Tinha muito trabalho pelo resto da madrugada. Levantei-me com a caixa na mão, tentando não tropeçar na mesma cabeceira caída no chão, e segui em direção ao quarto trancado. Comecei a experimentar todas as chaves, uma por uma, pondo de lado todas as que não funcionavam. Apenas nas últimas chaves, quando estava já a perder a esperança, é que uma delas funcionou, fazendo estalar a porta para dentro e abrindo-a.

Entrei ansiosa por saber, pelo facto de estar trancado, se lá estaria algo que não pudesse saber. Foi então que acendi a luz e saltei de susto, permanecendo parada a observar boquiaberta toda aquela confusão. Montes de fotografias minhas estavam rasgadas por cima da cama, os quadros de família que costumavam estar nas paredes, estavam agora partidos e espalhados pelo chão. Por cima das cómodas havia fotografias minhas com a Alice e o Rúben numa roulotte, exatamente como quando sonhava com eles. O resto do quarto estava vazio, talvez tivessem vendido o resto das minhas coisas a alguém, ou talvez destruído por completo.

De seguida abri os armários e as roupas encontravam-se todas queimadas. Afastei-me delas com as lágrimas a escorrerem pela cara e sentei-me na cama a olhar para elas, estupefacta! Como me podiam odiar tanto ao ponto de fazerem aquilo? O que teria feito eu afinal para merecer aquilo?

Inesperadamente, os meus pais entraram no quarto, estacando a olhar para o meu estado terrível.

- Filha… - disse a minha mãe sem saber o que dizer perante a situação.

- Não me chames filha! – disse fechando-lhes a porta na cara.

Atirei-me na cama partida, sem saber o que pensar de tudo aquilo. Não sabia se haveria de os culpar a eles ou de me culpar a mim mesma, pois não conhecia os motivos deles. Pedia que me deixassem em paz enquanto ouvia Nicole e os meus pais a pedirem-me para abrir a porta.

De um instante para o outro, o silêncio reinou, como se todos tivessem ido embora. Então dirigi-me à porta, encostei o meu ouvido e tentei ouvir alguma voz mas nada se ouvia para além do vazio. Dado isso coloquei a chave na fechadura e rodei. Abanei a porta, dei-lhe murros, tentei tudo. Ela não abria!

De repente ouvi a Nicole, aflita, aos berros: «Foge Luciana! A casa está a arder!»

Agi rapidamente e tentei arrombar a porta.

- Nicole ajuda-me! Não consigo abri-la!

Não percebia como de um momento para o outro a casa começara a arder. No entanto, nesse momento, isso não era o mais importante, tinha que sair dali o mais rápido possível.

Enfiei a chave na fechadura com toda a força e tentei, mais uma vez, abrir a porta, mas ela não se abria de maneira nenhuma. Ouvia Nicole do outro lado da porta fazendo o mesmo que eu. Senti um enorme cheiro a queimado e fumo a entrar pelas aberturas da porta.

- Nicole, deixa-me. Foge!

- Não te posso deixar aí!

- Eu disse FOGE! Vou tentar pela janela.

Corri até à ela e abri-a. Só depois de ver me lembrei das grades que tinha do lado de fora e abandonei essa ideia. Estava completamente isolada, não havia nenhuma forma de fugir dali. Começava a sentir o ar a aquecer cada vez mais e a minha respiração a ficar mais difícil ao decorrer de cada segundo.

- SOCORROOOO ! – gritei com todas as minhas forças, mas já ninguém estava dentro de casa.



O fumo continuava a entrar e já conseguia ouvir o som das chamas a aproximarem-se. Tentei partir as grades mas começava a perder os sentidos. 
Não sabia o que fazer até que ouvi alguma coisa vinda do lado de fora. Matias estava a trepar até à janela e amarrava agora as grades com uma corda. Não sabia qual era a ideia dele, mas a única coisa que queria era sair dali. As chamas já tinham alcançado a maior parte do quarto quando quase nenhuma consciência me restava. Matias descia para o chão e amarrava a mesma corda ao seu carro. De seguida entrou nele e acelerou a fundo, arrancando as grades de imediato. O fumo começava a entalar-se na minha garganta. Não parava de tossir. Matias trepou novamente a janela e berrou bem alto: “Dá-me a tua mão!”. Assim o fiz e ele puxou-me para si, agarrou-me e saltamos.

Atirei-me para o chão sem fôlego e Matias moveu o meu cabelo para os lados, respirou fundo e fez-me respiração boca-a-boca.

A Nicole e os meus pais encontravam-se em meu redor, preocupados. Mickael acabava de chegar, assustado com o que acontecia. Olhou para Matias e reagiu sem pensar, pensando que nos beijávamos e empurrou-o.

- Pára parvalhão! Ela não está a conseguir respirar! – exaltou-se Matias, continuando de seguida com o que estava a fazer.

Acordei sobressaltada e respirei aceleradamente, reparado em Matias, que estava mesmo à minha frente. Agradeci abraçando-o.

- Salvaste-me a vida!

Mickael ligou para os bombeiros e Nicole abraçou-me, feliz por me ver bem.

- Nicole, o que aconteceu? Como é que isto foi acontecer? – perguntei aflita, observando toda a casa em chamas.

- Foi um acidente. Eu estava a discutir com os pais… Eles estavam arrependidos por terem feito aquilo às tuas coisas mas depois começaram a pôr as culpas para cima de mim. Eu não reparei nas velas que estavam acesas em cima do balcão do corredor e sem querer deitei-as ao chão. Quando dei conta do que tinha feito, já estavam as carpetes a arder. Tentamos apagar, mas já se alastrava por todo o lado. Só tive tempo de pegar em algumas coisas importantes e de tentar ajudar-te. – disse Nicole a gaguejar. - Nem quero imaginar o que te podia ter acontecido se o Matias não arrancasse as grades para te tirar dali.

- Nem sei o que lhe dizer… obrigada por tudo. – agradeci-lhe.

Sem dizer uma única palavra, Matias virou-me as costas e foi-se embora.

- Precisas de descansar, estás muito fraca. - disse Mickael. 

- Eu estou bem.

- Luciana – Chamou Nicole com o telemóvel na mão – É a Alice. Já lhe disse o que aconteceu, ela quer falar contigo.

Atendi. Alice morria de preocupação. Acalmei-a garantindo que, graças ao Matias, estava tudo bem e que ninguém se tinha ferido. Como agora não tínhamos casa, Alice disse-me que podia voltar para casa dela, juntamente com Nicole e os meus pais, pois não havia qualquer problema. A casa dela é bem grande e tem espaço para muita gente. Sem qualquer outra alternatica, aceitei a oferta e falei disso a Nicole. Não sabia sequer o que dizer aos meus pais depois daquilo tudo. Entretanto vieram falar comigo.

- Luciana, perdoa-nos. – disse o meu pai. – Fui eu o principal responsável por aquilo que viste. Sabes que quando a raiva me possui perco a cabeça e não sei o que faço. O mesmo aconteceu com a tua mãe.

- Estamos muito arrependidos. – disse a minha mãe. – Naquele momento tínhamos razoes para agir assim mas agora compreendemos que tu tiveste também razoes para ter dito o que disseste. Todos nos exaltamos demais.

- Mas afinal o que aconteceu para a nossa relação ficar assim?

Explicaram-me tudo. Fiquei sem palavras ao saber que estavam separados.

- Porque não me contaram logo?

- Tínhamos medo. O médico avisou que não devíamos dar demasiadas informações e que tu te devias lembrar das coisas sozinha.

No fundo achava que ultimamente me tinha lembrado de algumas coisas, mas através de sonhos.

Durante o resto do dia instalei-me em casa de Alice onde fiquei várias horas a conversar com Mickael. Agora que sabia que os meus pais estavam deparados, ambos voltaram às suas vidas sem terem de fingir que estavam juntos. O meu pai comprou um apartamento para ele e a sua namorada e a minha mãe voltara para a sua casa em Coimbra. Nicole tinha decidido ficar comigo em casa da Alice pois já eramos adultas o suficiente para vivermos na ausência dos nossos pais.

Matias evitava-me. Era difícil de o conseguir entender. Parecia que estava sempre ausente mas sempre que precisava estava presente, pronto para me ajudar. De repente lembrara-me do beijo que dera a Mickael quando o vi naquela manhã. Se Matias dizia ser a minha sombra de certeza que assistira a isso. Sentia receio pelo que ele podia fazer. A mente dele era um autêntico mistério!

sábado, 23 de maio de 2015

Capítulo 13 – Instinto Traiçoeiro

Fui acordada com o som de várias vozes a falarem. Momentos depois ouvi a porta do quarto a abrir-se. Era Nicole que me chamava.

- Luciana está aqui o Matias. Diz que não sai daqui enquanto não falar contigo e os nossos pais estão furiosos com ele. Querem tira-lo desta casa a todo o custo!

Olhei para as horas. Já passava da meia-noite. O que será que ele queria?
Levantei-me e fui até à sala. Matias estava deitado no sofá como se estivesse em sua casa, ignorando os meus pais que o mandavam sair daqui e afastar-se de mim. Disse-lhe que seria melhor falarmos lá fora e ele veio comigo.

- Antes de mais queria pedir-te desculpa por não ter acreditado em ti. O Mickael admitiu tudo. – disse depois de chegarmos ao jardim que rondava toda a casa.

- Eu sei. Ouvi a vossa discussão de ontem.

- Andas a perseguir-nos?

- Digamos que tenho sido a tua sombra desde que vieste para cá. Desculpa. Não aguento estar sem saber nada de ti. Preciso de tempo para me habituar a isso.

- Se fosse a ti punha-me um chip enquanto dormia... - gozei. - O que vieste aqui fazer?

- Visitar-te... E ter a certeza se acabaste tudo com ele.

- Sim acabei. E se não tens mais nada para dizer, podes ir-te embora.

- Não, ainda tenho mais uma coisa. Tenho provas de que podes confiar em mim.

- Não é necessário, eu acredito em ti.

- Acreditas?
- Sim. A Alice, o Mickael... Todos dizem que eramos muito felizes juntos e que tu me amavas acima de todas as coisas. Não há mais nada que me faça desconfiar de ti.

Matias arrebentou de felicidade e puxou-me até ele, beijando-me fortemente. Fiquei imóbil durante breves segundos e depois empurrei-o para longe de mim.

- Estás louco???! – berrei.     

- Desculpa, desculpa! Interpretei mal o que disseste.

- No fundo não tens culpa. - começava a conseguir compreende-lo melhor. - Eu deixei de te amar de um momento para o outro... É estranho como simples memórias podem mudar os sentimentos. Já tentei várias vezes mas não consigo amar-te…

- Não precisas de dizer mais nada. Fui um estúpido. Mas eu não vou desistir de ti, Mesmo que tu nunca mais me voltes a amar. O meu coração pertence a ti e eu vou conseguir conquistar o teu! Vou fazer-te apaixonares-te de novo, sem te forçar. Se aconteceu uma vez de certeza que pode acontecer de novo.

Larguei um sorriso por saber que Matias não ficara magoado nem desiludido com a minha atitude. Despedi-me dele com um beijo na cara para o confortar e ele foi embora confiante. Só esperava não desiludir ninguém.

No dia seguinte acordei bem-disposta como já há muito tempo não acordava. Aquela fora a primeira noite depois do acidente em que dormira bem, sem pesadelos nem sonhos. Talvez aqueles sonhos fossem uma parte da minha antiga memória que me tentava alertar da verdade. Pelo menos era exatamente o que parecia. Talvez agora, que já sabia toda a verdade sobre o Mickael e o Matias, não voltasse a ter mais sonhos daqueles.

Estava mesmo revoltada pelo que descobrira sobre o Mickael, mas, ainda assim, sentia que o amava. Sentia-me mal pelo tabefe que lhe dei e apesar de saber que me mentiu e que foi um estúpido de primeira comigo, ainda desejava que ele estivesse ao meu lado. Sentia saudades dele e o que mais queria era encontrar-me com ele, pedir-lhe desculpas e voltar para ele.

- O que tens mana? – perguntou Nicole depois de observar que estava pensativa.

- Não é nada…

- Não mintas, eu conheço-te muito bem! Conta lá o que te chateia.

Desabafei-lhe tudo o que tinha na minha mente. Desde a discussão com o Mickael à conversa com o Matias.

- Bem, se mesmo assim achas que amas o Mickael, devias seguir em frente.

- Achas? É o que eu mais quero. Mas pensar na possibilidade dele voltar a enganar-me só me dá vontade de lhe dar um tiro... E fico com medo da reação do Matias se isso acontecer, não o quero magoar.

- Faz o que achates melhor!

Precisava de tempo para refletir antes de tomar qualquer decisão. Decidi então sentar-me na relva do jardim, a pensar. Olhei para o brilho do sol escondido entre as nuvens. De seguida olhei em redor e os meus olhos, atordoados da captação de luz em demasia, viram tudo desfocado. De repente imagens perturbadoras de alguém a agredir-me violentamente invadiram a minha mente. Também nessa memória via tudo desfocado em meu redor. Sobressaltei-me. As imagens dos meus pesadelos eram muito parecidas. Tentei relaxar e esquecer isso. Observei um pássaro numa árvore que cantava alegremente para os seus filhos no ninho. Era sem dúvida uma boa inspiração para me acalmar. Depois ouvi o ranger do portão a abrir-se. Era Mickael que, sem reparar que estava ali sentada, trupava à porta de casa. Levantei-me num reflexo incontrolável e corri até ele beijando-o de saudades. Os dois rodopiamos quando Nicole abriu a porta e nos viu os dois aos beijos. Riu-se satisfeita por saber que tinha seguido os seus conselhos de seguir em frente e voltou a fechar a porta para não interromper. Os rodopios desorientados acabaram por nos fazer cair aos dois no chão.

Entretanto a minha consciência chamou-me à razão e afastei-me. Mickael olhava para mim completamente parvo.

- Bem... Eu ia-te perguntar se podíamos pelo menos ser amigos. Mas gosto da tua sugestão.

Não consegui evitar rir-me do que ele acabara de dizer.

- Eu não estou bem... Preciso de saber controlar melhor os meus instintos. Desculpa... - sentia-me embaraçada e uma fraca!

- Nunca pensei que esquecesses o que te fiz tão rapidamente. – disse Mickael ainda assustado com o meu beijo que lhe parecera, cair do céu!

- Não me esqueci! Isto foi só um descontrole meu. Não penses que iria voltar tudo a ser como antes só por causa disto.

- Luciana, eu estou completamente apaixonado por ti! Porra se sentes o mesmo porque não perdoas?

Era a tentação do pecado ouvi-lo dizer aquilo. Era tudo o que mais queria! Mas não podia. Não podia ser tão fraca ao ponto de perdoa-lo de um dia para o outro. Ele podia estar a mentir novamente naquilo que dizia.

- Porque não consigo confiar o suficiente. Preciso de tempo! Podemos ser amigos, mas dá-me espaço!

- Hoje tu é que invadiste o meu espaço. - riu-se - Tudo bem. Seremos apenas amigos... E não te preocupes, a partir de agora acabaram-se as mentiras!

quinta-feira, 14 de maio de 2015

Capítulo 12 – Mas quem és tu afinal?

Os dias começaram a passar cada vez mais rápido, com os meus pais cada vez mais duros comigo, e as noites começaram a passar cada vez mais devagar, pois raramente conseguia dormir, e quando dormia, tinha sonhos e pesadelos mesmo muito estranhos.

Sonhava bastante com a Alice, embora ainda não a conhecesse, com Mickael e também com Matias. Quando acordava, parecia que aqueles sonhos e pesadelos tinham sido reais. Ficavam na minha mente e não os conseguia esquecer durante o resto do dia.

Neste momento eu e o Mickael namorávamos. Abri o meu coração e disse-lhe tudo o que sentia. Por mais que o Matias me dissesse que ele não era de confiança eu não conseguia deixar de sentir a paixão que sentia por ele. O olhar estranho que ele me fizera naquele dia ficou durante muito tempo na minha memória. Um olhar falso e traiçoeiro em vez de um olhar querido e apaixonado que me fez arrepiar. No entanto decidira esquecer isso e seguir em frente, ao lado dele.

Ele visitava-me todos os dias e todos os dias íamos dar um passeio ao ar livre. No entanto houve um dia em que Alice veio com ele. Arrepiei-me mal a vi, devido aos sonhos estranhos que tinha quase todas as noites com ela.
Mal lhes abri a porta Alice correu até mim e abraçou-me.

- Tenho tantas saudades tuas amiga! Desculpa ter saído daquela maneira do hospital quando disseste que não te lembravas de mim, eu não tava nada à espera que dissesses isso. Fui uma criança ao ter levado a mal, pois tu não tens culpa nenhuma. O meu dever é ficar ao teu lado e ajudar-te neste momento difícil. E é para isso que eu aqui estou, espero que não te importes…

- Fica à vontade. Pareces ser uma boa pessoa. Eu até tenho pena de não me lembrar de ti – brinquei, oferecendo um gelado de baunilha aos dois e pedindo que se sentassem nos sofás da sala.

Alice olhava para Mickael, admirada por vê-lo ali.

- Eu não sei se vocês já se conheciam, mas talvez seja melhor eu apresentar-vos – disse após reparar na admiração de Alice – Mickael, esta é uma amiga minha que lamentavelmente, eu não me lembro. E Alice, este é o Mickael, o meu namorado.

Alice cuspiu o bocado de gelado que tinha na boca para o chão da sala e soltou um guincho desafinado.

- Namorados??!

Nicole, que se encontrava a arrumar os armários, riu-se silenciosamente da reação dela e eu olhava para ela espantada.

- Sim foi o que tu ouviste, eu e o Mickael somos…

- Não pode ser! – interrompeu Alice, limpando o bocado de gelado que caíra na sua roupa – Dessa não estava nada à espera.

- Pensei que não o conhecesses.

- Tornamo-nos bons amigos enquanto tu foste viver com o Matias… - olhou espantada para Mickael.

- Porquê todo esse espanto? – não entendia.

- Por nada. Apenas porque antes do acidente não podias sequer olhar para ele.

- Eu sei. Ele próprio me disse isso mas não consigo fingir ser a pessoa que já não sou. Ele é quem eu mais desejo neste momento.

 – Pobre Matias, ele amava-te mais a ti do que a ele próprio. Até tenho medo do que ele possa fazer.

- Com isso já não temos nada a ver. – disse Mickael, beijando-me amorosamente. – Já são horas de eu voltar ao trabalho. Vemo-nos mais tarde, manda mensagens. – Pediu, fazendo-me rir com uma careta e saindo de casa.

Alice observou-o pela janela, a desaparecer ao longo da rua. A forma como reagia com a presença de Mickael era estranha, para não falar das vezes em que ambos trocaram olhares durante aquela conversa. Será que tiveram os dois algum caso antes do acidente? Isso explicaria a forma como se espantou quando divulguei que namorávamos.
Preparava-me para lhe fazer essa pergunta quando esta perguntou, de rompante, que me podia desabafar algo.

- Sim… claro. – respondi.

- Eu sei que agora sou uma estranha para ti, mas o que te vou dizer só poderás compreender se tiveres em conta o passado.

- Que passado?

- Antes do acidente tu e o Mickael sempre se odiaram. Primeiro ele e depois tu. Quando eu me tornei amiga dele ele sempre me disse que não queria nada contigo. E por isso eu alimentei as esperanças de que talvez eu pudesse ficar com ele…

- Tu gostas dele? – tal como eu pensava!

- Não, não! Já senti, agora apenas sinto que ele me usou. Quando gostava dele disse-lhe o que sentia e tivemos um caso durante uns tempos. Depois ficamos apenas por amigos e agora ele finge que não me conhece!

- Isso é verdade? – fiquei incrédula.

- Sim, juro! Ele sempre me disse que te odiava até ao momento que eu lhe disse que tiveras um acidente grave e que te esqueceras de tudo. Por causa disto acho que ele te está a usar, tal como me usou.
Fiquei sem palavras a olhar para ela. Tudo o que ela dizia fazia sentido e correspondia aos sonhos que eu tinha sobre ele e aquele olhar traiçoeiro que por tempos não me saiu da cabeça.

- Promete-me que vais pensar sobre isto e que vais ter cuidado. – pediu Alice.

- Está bem, eu prometo. Aliás… ainda hoje falo com ele acerca disto.

Quando Alice saiu de minha casa, saí juntamente com ela em direção a casa do Mickael. Tinha que esclarecer as coisas com ele.

Já em frente da casa dele, esperei. Sabia que faltava pouco para sair do trabalho. Minutos depois lá estava ele. Feliz com a minha visita, aproximou-se de mim para cumprimentar. Pousou levemente as suas mãos na minha face para me beijar e eu virei a cara. O seu sorriso imediatamente se desvaneceu.

- Que se passa? – perguntou espantado.

Afastei-me dele e soltei a minha raiva.

- Não te faças de parvo! Ou arranjas uma boa explicação para aquilo qua a Alice e o Matias dizem sobre ti ou então está tudo acabado!

Por fora estava enfurecida, mas por dentro sentia uma dor enorme por estar a falar assim com ele. Uma grande parte de mim ainda acreditava nele e ainda era completamente apaixonada por ele. Mickael olhava para mim sem saber o que dizer e eu começava a sentir-me mal por estar a discutir com ele. Na realidade só me apetecia ignorar o que eles diziam e viver a paixão que sentia.

- Já percebi que a Alice te disse tudo. É normal que reajas assim. – suspirou - Não te vou esconder mais… é verdade o que dizem. Antes do acidente não eramos amigos e eu não gostava de ti.

Sem querer acreditar no que ouvia, não hesitei em dar-lhe um estalo.

- Mentiste-me!

- Eu sei, desculpa!

-Desculpo? Tu só te aproximaste de mim porque não me lembrava de nada. Viste que gostava de ti como quando nos conhecemos e aproveitaste-te disso. Não vales nada…

- Pensei que essa era a única forma de conseguir ter-te. Quando a Alice me contou o quanto tu e o Matias estavam felizes juntos senti ciúmes e percebi que te amava. Estava cego e não via a incrível pessoa que és! Agora conheço-te bem e sei que te adoro. Estou tão arrependido, perdoa-me!

- Estás arrependido o tanas! Confiei em ti e magoei as outras pessoas por tua causa por isso peço licença porque tenho um pedido de desculpas a fazer ao Matias.

Virei-lhe costas e comecei a caminhar em direção a minha casa mas Mickael correu atrás de mim e agarrou-me.

- Luciana espera! Eu prometo que vou mudar.

- Não acredito em ti, deixa-me!

Corri até casa e enfiei-me dentro do quarto.

- Luciana, o que se passou? Vi-te a correr furiosa… - disse Nicole do outro lado da porta.

- Desculpa, por enquanto não quero falar com ninguém.

- Não vens jantar?

- Vou dormir.


Vesti o pijama, desliguei as luzes e tentei adormecer. Só queria apagar-me da realidade.

sexta-feira, 8 de maio de 2015

Capítulo 11 – O confronto

No dia seguinte, acordei bem cedo e a pensar no Mickael. A minha cabeça andava às voltas e sentia ansiedade. Precisava de apanhar ar. 

Depois de me vestir, sai do quarto e atravessei os corredores. Todos dormiam. Com aquele silêncio lembrei-me do barulho que o Scarpy fazia todas as manhãs. Era o despertador da casa. Onde estaria ele agora? Sentia saudades. 
Já fora de casa, respirei fundo sentindo o ar fresco da manhã. O vento deslisava-me levemente pela cara. Aquele ambiente fresco e profundo fazia-me lembrar algo bom, mas não conseguia perceber o quê pois era bastante longínquo.

Avancei com leves e vagarosos passos pela rua até que avistei Matias. Caminhava em direção a minha casa, supostamente para me visitar.

 - Ia agora mesmo saber como estavas.

Fingi um sorriso e encostei-me a um muro mesmo ao meu lado.

- O que tens? Estás distante. Sentes-te bem?

- Antes de tu apareceres, sim. – disse a verdade - Porquê que não me deixas em paz?

- Não me fales assim. Eu só quero o teu bem!

- Mas eu estou bem. Não preciso de ti.

- Porquê que estás assim comigo? – perguntou chateado – Podias pelo menos tentar! Achas que é fácil para mim? Tu perdeste a memória, mas eu não.

- Já tentei lembrar-me, não posso fazer mais do que isso! Peço desculpa por não conseguir fingir sentimentos. Se é isso que queres posso começar a tentar iludir-te!

Pegou na minha mão e colocou-a no seu peito.

- Se houvesse uma forma de te fazer ler os meus pensamentos e saber tudo o que sinto aqui dentro, tenho a certeza que me voltarias a amar…

- Pois… mas não há! – retirei a mão. – Aliás. Continuo sem saber se me mentes. Os meus pais disseram-me que nós sempre fomos apenas amigos.

 - O quê? O quê que eles sabem sobre nós, diz-me? Logo eles que estiveram longe de ti durante um ano inteiro, sem quererem saber de nada.

- Estive um ano a viver contigo e a Alice?

- Não. Estiveste um ano inteiro a viver apenas comigo. Tu viste as fotografias. Tu amavas-me.

- Disseste bem, amava!

Começava a sentir-me tonta. Vi Mickael a aparecer. Pelos vistos também me ia visitar.

- Luciana. – vozeou Mickael, colocando a mão na minha testa – Estás bem? Estás tão pálida!

- O quê que este palhaço está aqui a fazer?! – Perguntou Matias focando Mickael.

- Deixa-a em paz, não vês que ela está-se a sentir mal? Desaparece daqui!

- Quem és tu para me mandares desaparecer? Como tens a lata de vires aqui fazer-te de velho amigo dela depois do que lhe fizeste? – berrou Matias empurrando Mickael e fazendo-o quase cair para trás.

- Parem com isso os dois! – gritei eu quando Mickael se preparava para se vingar do empurrão. – Matias vai embora, deixa o Mickael em paz. Ele é meu amigo.

- O quê? Luciana, não te lembras dele? Ele não é teu amigo, ele fez-te sofrer.

- Não inventes! Ele está a ser incrível comigo. Deixa-nos em paz!

- Não acredito nisto… E eu estou a ser o quê? Acreditas nele e não acreditas em mim? Eu é que estou a mais?

- Só agora é que percebeste isso? – provocou Mickael.

- Tu cala-te! – berrou revoltado – Luciana tens que acreditar em mim! Ele está a aproveitar a tua perda de memória para se fazer a ti.

- Vai-te embora, não quero ouvir mais nada! – tentava ignorar o que dizia.

- Eu e tu vamos ter uma conversinha. – disse para Mickael. – Se fosse a ti não dormia hoje.

Com isto foi-se embora. Mickael aproximou-se de mim. Beijou-me a testa e abraçou-me, pedindo-me para não acreditar no Matias. Perguntou-me se ainda me sentia mal e eu respondi que sim. Sentia-me cada vez pior. Pegou em mim e trouxe-me para dentro de casa. Sentia que não podia ter melhor companhia. De todos, era o único que eu conseguia confiar plenamente.

- Sinto que estou a ser injusta com ele. – falava do Matias.

- Não estás, não te preocupes com ele. Agora tenho que ir. Ficas bem?

- Sim.

- Quando precisares de mim telefona-me. Vivo aqui perto. – disse beijando-me novamente na testa.

Os seus olhos azuis faziam-me lembrar algo triste. O seu brilho estava frio, distante, sem cor e sem reflexo. Com isto disse-lhe «adeus» e ele foi-se embora. Aquele olhar perturbara-me, mas não percebia porquê. Talvez não gostasse assim tanto dele como pensava.

sexta-feira, 1 de maio de 2015

Capítulo 10 – Falsas Saudades

No dia seguinte acordei com um telefonema de Nicole, vi Matias mesmo à minha frente deitado no sofá, a dormir. Atendi o telemóvel e Nicole disse-me que já podia voltar para casa pois já não havia problema. Mas afinal, que problemas é que havia? Não percebia nada. Tinha desistido de fazer perguntas pois nunca ninguém me respondia. Fiz as malas, avisei Alice, que estava já acordada, despedi-me dela e saí de casa. Pelo caminho, encontrei pessoas que ficaram felizes por me verem. Diziam-me que adoraram os trabalhos que fazia quando andava na faculdade e quase me imploravam para voltar para lá.

- Desculpem, não sei de que estão a falar. Devem-me estar a confundir com alguém. - disse continuando a caminhar.

Apanhei um autocarro, caminhei e caminhei e minutos depois apercebi-me que estava perdida. Não me lembrava do caminho para casa. Olhei em frente para uma plaqueta com os nomes das ruas, mas não me lembrava de nenhuma delas. Então sentei-me na ponta do passeio a refletir. Tinha uma ideia completamente diferente da minha vida. Pessoas que eu não conhecia passavam constantemente por mim na rua, falando de coisas que eu não me lembrava. Já não me conhecia a mim própria! Não me lembrava de Alice que saiu do hospital a chorar por eu não a conhecer nem me lembrava de Matias que dizia ser meu namorado e que me amava. Na minha cabeça só recordava uma pessoa: o Mickael. O rapaz lindo de morrer, bondoso e extraordinário por quem eu sentia uma saudade enorme e por quem sentia uma verdadeira paixão.

No entanto um carro cinzento parou à minha frente. Era Matias que me procurava aflito.

Fui ter com ele e entrei no carro, insegura.
- A Alice disse-me que vinhas para tua casa. – falou - Está toda a gente doida? Claro que te ias perder! Devias ter-me pedido para te trazer.

- Tu estavas a dormir, e pensei que não me deixasses vir.

- Claro que te vou levar contrariado, mas não tenho outro remédio.

Conduziu até a casa dos meus pais. Pelo menos a casa estava, aparentemente, como eu imaginava ser. Saí do carro e Matias ficou no carro, à espera que entrasse.

Ao ouvir a minha voz, Nicole abriu a porta.

- T’ás pronta? – perguntou.

- Pronta para quê? – aquelas perguntas metiam-me nervosa. Não sabia o que me esperava.
Nicole ignorou a minha pergunta e disse-me que iria correr tudo bem, assinalando para que entrasse.
Do outro lado da porta estavam os meus pais. Corri até eles e de sorrisos forçados, abraçaram-me. A minha primeira pergunta foi o porquê de eu ter ido viver com o Matias e a Alice.

- Tu eras amiga deles e foste passar umas férias com eles. - Respondeu a minha mãe.

- Amiga? – fitei-a - Ele disse-me que eramos namorados! Mentiu-me!

- Ele sempre te enganou, nós avisamos-te filha.
Nicole olhou boquiaberta.

- Luciana, deixa-me falar com os nossos pais a sós um bocado, pode ser?
Retirei-me, mas escondi-me para ouvir a conversa.

- Podem-me explicar o que acabaram de dizer à minha irmã? Não sei qual é o vosso objetivo com isto. Vocês estão cada vez piores! Prometeram-me que a iam tratar da mesma forma do que antes! - gritou Nicole indignada.

- Cala-te! - ordenou Constança. – Não a consigo perdoar. Ela não voltou uma única vez para tentar resolver as coisas. Foi para casa daquele Matias e nunca mais quis saber de nós.

- E acham que o Matias tem culpa para a estarem a meter contra ele?
Não queria ouvir mais. Caminhei em direção ao meu quarto para desfazer as malas. Conseguia ouvi-los aos berros.

- Nunca quiseste saber dela e agora estás preocupada?

- Por amor de Deus mãe, ela perdeu a memória! Não basta o que vocês lhe fizeram?

- O que fizemos foi para ela aprender. E pelos vistos não resultou. Ela vai ter o que merece e não se fala mais neste assunto. Se tu te metes nisto tiramos-te a ti de casa, ouviste bem?

Tentei abrir a porta do meu quarto e apercebi-me que estava trancado. Mas que raio? Fui para a casa de banho e tranquei-me. Olhei para o espelho e tentei lembrar-me de algo concreto. Desatei a chorar. Não conseguia confiar em ninguém. Ao ter ouvido a minha mãe falar sobre mim daquela forma percebi que tinha feito algo grave. Percebi que eu não tinha ido morar com Matias e Alice para passar férias, mas sim porque fora expulsa de casa.
Truparam à porta da casa de banho. Era Nicole. Disse-me que queria falar comigo. Limpei as lágrimas e abri. Ao ver o meu estado percebeu que tinha ouvido a conversa e abraçou-me.

- Vai ficar tudo bem. Em mim podes confiar.

- Será que posso? A Nicole que me lembro não é como tu és.

- Anda lá, eu vou ajudar-te a arrumar as tuas coisas.

- O meu quarto está trancado.
Nicole admirou-se.

- Bom, arrumas no meu quarto. – ouviu-se o som da campainha a tocar. – Vou só ver quem está aí e vou já ter contigo para te ajudar.

Fiz o que ela disse.

Minutos depois Nicole entrou no quarto a dizer que a visita era para mim. Espantei-me. Quem seria? Aproximei-me da sala e pelo reflexo da janela vi que era Mickael. O meu coração deu instintivamente um salto e fiquei pálida. Como é que o Mickael veio a minha casa para falar comigo? Será que eramos amigos antes do acidente? Eu não me lembrava de ter falado muitas vezes com ele. Conhecíamo-nos, falávamos às vezes, mas ele não me correspondia como desejava. Avancei sem medo e sentei-me no sofá, ao lado dele. Fiquei apenas a olhar para ele, admirada, sem nada dizer nem fazer.

- Precisamos de falar. - começou - Soube que perdeste a memória por causa de um acidente.
Engoli em seco tentando ganhar coragem para falar e a minha voz saiu a tremer.

- Sim, é verdade… Não me lembro sequer como aconteceu, só sei que acordei no hospital, acompanhada de amigos que eu não conhecia, também magoados pelo acidente.

- Então não te lembras de nada nem de ninguém? -perguntou seriamente.

- Quase nada e quase ninguém… Só me lembro dos meus pais, de ti e alguns amigos da infância. Mas não sei de nada do que fiz a partir da adolescência. É difícil conseguir lidar com isto porque as poucas pessoas que acho que conheço estão diferentes.

- Só espero que fiques bem...

O meu coração deu outro salto, desta vez tão forte que fiquei imediatamente corada. O Mickael estava preocupado comigo? Não me lembrava de termos esta relação de amizade, apenas me lembrava dos intervalos que eu passava a vê-lo a jogar futebol com os amigos, a persegui-lo e constantemente a tentar conversar com ele.

- Mickael... diz-me uma coisa. Nós falávamos antes do acidente? - por mais que custasse, tinha que perguntar aquilo.

- Bem… não propriamente. Eu tinha descoberto o que tu sentias por mim e num dia em que não estava bem-disposto, tratei-te mal. A partir daí passaste a odiar-me e eu comecei a perceber que no fundo sentia o mesmo. Comecei a sentir-me também apaixonado. Mas tu não ligaste e saíste daqui para viveres com o Matias. Desde aí nunca mais te vi. Hoje soube do acidente e vim ter contigo.

Depois de ouvir isso, fiquei confusa e atordoada. Como seria possível? Ele gostava de mim e eu não liguei? Como é que, depois de toda aquela paixão que sentia por ele, tinha decidido ignora-lo e mudar-me para casa desse Matias? Pelos vistos ele tinha-me feito algo que me fez odia-lo. Mas agora isso não interessava. Eu amava-o a ele e não ao Matias.

- Desculpa lá. É melhor voltares mais tarde para falar com ela. - disse Nicole para Mickael, vendo que me estava a fazer sentir perturbada com aquela conversa.