quinta-feira, 14 de maio de 2015

Capítulo 12 – Mas quem és tu afinal?

Os dias começaram a passar cada vez mais rápido, com os meus pais cada vez mais duros comigo, e as noites começaram a passar cada vez mais devagar, pois raramente conseguia dormir, e quando dormia, tinha sonhos e pesadelos mesmo muito estranhos.

Sonhava bastante com a Alice, embora ainda não a conhecesse, com Mickael e também com Matias. Quando acordava, parecia que aqueles sonhos e pesadelos tinham sido reais. Ficavam na minha mente e não os conseguia esquecer durante o resto do dia.

Neste momento eu e o Mickael namorávamos. Abri o meu coração e disse-lhe tudo o que sentia. Por mais que o Matias me dissesse que ele não era de confiança eu não conseguia deixar de sentir a paixão que sentia por ele. O olhar estranho que ele me fizera naquele dia ficou durante muito tempo na minha memória. Um olhar falso e traiçoeiro em vez de um olhar querido e apaixonado que me fez arrepiar. No entanto decidira esquecer isso e seguir em frente, ao lado dele.

Ele visitava-me todos os dias e todos os dias íamos dar um passeio ao ar livre. No entanto houve um dia em que Alice veio com ele. Arrepiei-me mal a vi, devido aos sonhos estranhos que tinha quase todas as noites com ela.
Mal lhes abri a porta Alice correu até mim e abraçou-me.

- Tenho tantas saudades tuas amiga! Desculpa ter saído daquela maneira do hospital quando disseste que não te lembravas de mim, eu não tava nada à espera que dissesses isso. Fui uma criança ao ter levado a mal, pois tu não tens culpa nenhuma. O meu dever é ficar ao teu lado e ajudar-te neste momento difícil. E é para isso que eu aqui estou, espero que não te importes…

- Fica à vontade. Pareces ser uma boa pessoa. Eu até tenho pena de não me lembrar de ti – brinquei, oferecendo um gelado de baunilha aos dois e pedindo que se sentassem nos sofás da sala.

Alice olhava para Mickael, admirada por vê-lo ali.

- Eu não sei se vocês já se conheciam, mas talvez seja melhor eu apresentar-vos – disse após reparar na admiração de Alice – Mickael, esta é uma amiga minha que lamentavelmente, eu não me lembro. E Alice, este é o Mickael, o meu namorado.

Alice cuspiu o bocado de gelado que tinha na boca para o chão da sala e soltou um guincho desafinado.

- Namorados??!

Nicole, que se encontrava a arrumar os armários, riu-se silenciosamente da reação dela e eu olhava para ela espantada.

- Sim foi o que tu ouviste, eu e o Mickael somos…

- Não pode ser! – interrompeu Alice, limpando o bocado de gelado que caíra na sua roupa – Dessa não estava nada à espera.

- Pensei que não o conhecesses.

- Tornamo-nos bons amigos enquanto tu foste viver com o Matias… - olhou espantada para Mickael.

- Porquê todo esse espanto? – não entendia.

- Por nada. Apenas porque antes do acidente não podias sequer olhar para ele.

- Eu sei. Ele próprio me disse isso mas não consigo fingir ser a pessoa que já não sou. Ele é quem eu mais desejo neste momento.

 – Pobre Matias, ele amava-te mais a ti do que a ele próprio. Até tenho medo do que ele possa fazer.

- Com isso já não temos nada a ver. – disse Mickael, beijando-me amorosamente. – Já são horas de eu voltar ao trabalho. Vemo-nos mais tarde, manda mensagens. – Pediu, fazendo-me rir com uma careta e saindo de casa.

Alice observou-o pela janela, a desaparecer ao longo da rua. A forma como reagia com a presença de Mickael era estranha, para não falar das vezes em que ambos trocaram olhares durante aquela conversa. Será que tiveram os dois algum caso antes do acidente? Isso explicaria a forma como se espantou quando divulguei que namorávamos.
Preparava-me para lhe fazer essa pergunta quando esta perguntou, de rompante, que me podia desabafar algo.

- Sim… claro. – respondi.

- Eu sei que agora sou uma estranha para ti, mas o que te vou dizer só poderás compreender se tiveres em conta o passado.

- Que passado?

- Antes do acidente tu e o Mickael sempre se odiaram. Primeiro ele e depois tu. Quando eu me tornei amiga dele ele sempre me disse que não queria nada contigo. E por isso eu alimentei as esperanças de que talvez eu pudesse ficar com ele…

- Tu gostas dele? – tal como eu pensava!

- Não, não! Já senti, agora apenas sinto que ele me usou. Quando gostava dele disse-lhe o que sentia e tivemos um caso durante uns tempos. Depois ficamos apenas por amigos e agora ele finge que não me conhece!

- Isso é verdade? – fiquei incrédula.

- Sim, juro! Ele sempre me disse que te odiava até ao momento que eu lhe disse que tiveras um acidente grave e que te esqueceras de tudo. Por causa disto acho que ele te está a usar, tal como me usou.
Fiquei sem palavras a olhar para ela. Tudo o que ela dizia fazia sentido e correspondia aos sonhos que eu tinha sobre ele e aquele olhar traiçoeiro que por tempos não me saiu da cabeça.

- Promete-me que vais pensar sobre isto e que vais ter cuidado. – pediu Alice.

- Está bem, eu prometo. Aliás… ainda hoje falo com ele acerca disto.

Quando Alice saiu de minha casa, saí juntamente com ela em direção a casa do Mickael. Tinha que esclarecer as coisas com ele.

Já em frente da casa dele, esperei. Sabia que faltava pouco para sair do trabalho. Minutos depois lá estava ele. Feliz com a minha visita, aproximou-se de mim para cumprimentar. Pousou levemente as suas mãos na minha face para me beijar e eu virei a cara. O seu sorriso imediatamente se desvaneceu.

- Que se passa? – perguntou espantado.

Afastei-me dele e soltei a minha raiva.

- Não te faças de parvo! Ou arranjas uma boa explicação para aquilo qua a Alice e o Matias dizem sobre ti ou então está tudo acabado!

Por fora estava enfurecida, mas por dentro sentia uma dor enorme por estar a falar assim com ele. Uma grande parte de mim ainda acreditava nele e ainda era completamente apaixonada por ele. Mickael olhava para mim sem saber o que dizer e eu começava a sentir-me mal por estar a discutir com ele. Na realidade só me apetecia ignorar o que eles diziam e viver a paixão que sentia.

- Já percebi que a Alice te disse tudo. É normal que reajas assim. – suspirou - Não te vou esconder mais… é verdade o que dizem. Antes do acidente não eramos amigos e eu não gostava de ti.

Sem querer acreditar no que ouvia, não hesitei em dar-lhe um estalo.

- Mentiste-me!

- Eu sei, desculpa!

-Desculpo? Tu só te aproximaste de mim porque não me lembrava de nada. Viste que gostava de ti como quando nos conhecemos e aproveitaste-te disso. Não vales nada…

- Pensei que essa era a única forma de conseguir ter-te. Quando a Alice me contou o quanto tu e o Matias estavam felizes juntos senti ciúmes e percebi que te amava. Estava cego e não via a incrível pessoa que és! Agora conheço-te bem e sei que te adoro. Estou tão arrependido, perdoa-me!

- Estás arrependido o tanas! Confiei em ti e magoei as outras pessoas por tua causa por isso peço licença porque tenho um pedido de desculpas a fazer ao Matias.

Virei-lhe costas e comecei a caminhar em direção a minha casa mas Mickael correu atrás de mim e agarrou-me.

- Luciana espera! Eu prometo que vou mudar.

- Não acredito em ti, deixa-me!

Corri até casa e enfiei-me dentro do quarto.

- Luciana, o que se passou? Vi-te a correr furiosa… - disse Nicole do outro lado da porta.

- Desculpa, por enquanto não quero falar com ninguém.

- Não vens jantar?

- Vou dormir.


Vesti o pijama, desliguei as luzes e tentei adormecer. Só queria apagar-me da realidade.

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