quarta-feira, 29 de julho de 2015

Capítulo 22 – Fuga Possível?

Quando chegamos ao destinatário a primeira coisa que fizemos foi observar a casa e tentar perceber onde era mais provável o colar estar. Metade dela estava toda queimada e quase a cair aos bocados e a outra metade estava completamente desfeita em destroços.

- Não sei como vamos encontrar o colar no meio desta confusão… Eu já nem sei de que lado está a cave! – Disse Nicole.

- Não podemos desistir. – Disse Mickael dirigindo-se para a zona dos destroços.

Procuramos durante horas e nada se encontrava para além de poeira, paredes quase a cair e objetos partidos.

- Venham aqui – Chamou Constança apontando para umas paredes caídas - Aqui era o quarto da Nicole e o sótão situava-se por cima. Como esta parte da casa caiu com o fogo, as coisas que estavam no sótão devem ter caído aqui…

- Bem visto. – Disse Nicole observando um monte de objetos desfeitos.

Comecei a rodear as paredes estendidas no chão.

Horas se passaram enquanto todos analisaram, escavaram e voltaram a analisar, até que Nicole concluiu que não iriam conseguir encontrar nada.

- É desnecessário… Nunca conseguiremos encontrar nada no meio disto tudo. – Disse pessimista.

- Não pares, podemos estar mais perto do que parece. – Respondeu Mickael.

- Está a escurecer… Não será melhor procurarmos amanhã de manhã? No escuro não vamos ver nada. – Insistiu Nicole.

- Eu não saio daqui sem encontrar o colar. – Proferiu Mickael sem parar de escavar.

- Mickael, não vale a pena, a Nicole tem razão… - Concordei. - Está escuro e o tempo está a alertar uma tempestade. É inútil continuarmos. Voltamos cá amanhã.

- E enquanto isso a Luciana está com uns psicopatas que podem decidir mata-la a qualquer momento… - Revoltou-se parando com o que estava a fazer. – Vocês não entendem o risco de vida que ela corre??? Isso não vos preocupa?

- Que parvoíce! É claro que nos preocupa! – Berrou Nicole.

- Por amor de Deus, acalmem-se. – Interveio Constança. – Não vale a pena discussões… Eles deram-nos 3 dias, ainda temos tempo. E se não encontrarmos o colar não podemos fazer nada … - Disse limpando as lágrimas. – A minha filha… A minha querida filha…

- Tem calma mãe, vai ficar tudo bem. Nós vamos conseguir encontrar o colar. – Acalmou Nicole, abraçando-a. – Amanhã voltamos bem cedo.

                            *                    *                    *                        *                     *                   
 Naquela cave cada segundo parecia um século. Estar tanto tempo no mesmo sítio e na mesma posição, sem comer nem poder falar, fazia-me sentir morta. Pensava na minha família e no desespero que deveriam estar na busca pelo colar. Pensava no Mickael preocupado em tirar-me daqui sem sequer imaginar a causa de eu ter vindo aqui parar. E pensava no Matias. O nosso beijo não me saia da cabeça e tinha a certeza que ter tanto tempo para pensar só fazia os meus sentimentos ficarem mais confusos. Para piorar, imaginar a possibilidade do Matias naquele momento morto por suicídio fazia-me estremecer e querer pedir ao Cruner para me matar, tal como ele quer.

Jayden virou-se de costas para mim e encostou-se ligeiramente na pequena janela, olhando para as estrelas. Durante a noite a cave ficava completamente escura por isso apenas conseguia ver a luz do luar que entrava pela janela.

Mantive-me quieta e calada, observando o pouco das costas do Jayden que conseguia ver, até que me lembrei do Matias. Tal como o Jayden, ele estava de costas voltadas para mim, entre a escuridão, quando o vira na floresta antes de ter perdido os sentidos.

Neste momento não tinha a fita-cola na boca, por isso não hesitei em fazer a pergunta que há muito me intrigava.

- O quê que vocês fizeram ao Matias? - A minha voz saiu fina demais.

- Como? – Perguntou virando-se para mim, sem perceber a minha pergunta.

- O quê que vocês fizeram ao Matias? Eu vi-o na floresta. Estava mesmo à minha frente.

- Não sei quem é esse Matias… - Respondeu virando-se novamente para a janela. – E não havia mais ninguém à tua beira, sem sermos nós.

- Por favor diz-me! Preciso de saber se ele está bem!

- Fala baixo! Obrigar-me-ás a pôr-te a fita-cola outra vez!

- Desculpa…

- Tem calma, está bem?! Ninguém fez mal a ninguém. E se tu continuares assim as coisas não te vão correr bem.

Jayden virou-se de costas mais uma vez. Fiquei a observar novamente e reparei que o seu cabelo por trás era igual ao do Matias.

De imediato percebi tudo.

- Eras tu o rapaz que eu vi de costas voltadas? – Perguntei admirada.

- É provável que sim.

Subiu as escadas em corda até à pequena abertura e estreitou à sua volta. Tornou a descer e aproximou-se de mim desamarrando as cordas que me prendiam.

- O que estás a fazer? – A sua atitude radiou-me de esperança.

Desamarrou todas as cordas sem dizer uma única palavra. E de seguida pediu-me para que me levantasse.

- Obrigada! – Disse sem acreditar no que acontecia.

Ele olhou para as cordas novamente.

- Não te vou libertar. Por muito que queira, não posso fazer isso.

Desiludida com a resposta, olhei para ele sem perceber.

- Então para que foi isto?

- Eles não estão aqui. Só estamos nós, por isso vou mostrar-te uma coisa.

- Não é arriscado?

- Confia em mim. Segue-me.

Fiz o que ele pediu. Subimos as escadas em corda, trespassamos a pequena abertura que dividia a cave do 1º piso daquela casa estranha e percorremos um longo corredor. Passamos por várias divisões com o chão coberto de objetos que pareciam, à primeira vista, bastante valiosos, até que encontramos um armário antigo de onde Jayden retirou um livro grande e velho.

- Sabes o que é isto?

- Um livro?...

- É uma agenda onde o Cruner costuma escrever os nomes de todos os reféns que já aprisionou e torturou aqui dentro até as famílias lhe darem o que ele quer. Muitos desses reféns acabaram por morrer aqui dentro, mesmo depois das famílias lhe darem os objetos preciosos. Acho que até agora tens tido imensa sorte. Se reparares ainda não tens um único arranhão e já se passou um dia. Já observei coisas terríveis aqui dentro e acredita que em comparação aos outros ele adora-te! O único objeto que lhe falta desta zona da cidade é o teu colar, que é o mais valioso de todos e, até agora, o mais difícil de encontrar.

- Não estou a perceber. Mas para quê que ele quer esse colar se tem tantos quartos cheios de objetos de ouro?

- Nem todos esses objetos são de ouro, alguns deles são apenas imitações. Mas não é bem a fortuna que está aqui em causa. Nem sempre é isso que ele procura: ele é obcecado em coleções e enquanto não estiver satisfeito com a sua coleção de colares valiosos, não vai descansar e muito menos deixar descansar os outros que o rodeiam...

- Bom, se para ele parar, bastar o colar, então que fique com ele! Não o quero para nada. Só me sinto mal por causa da minha mãe, este colar significa muito para ela.

- Não lhe podes oferecer o colar. Esquece isso! Mal ele veja o colar nas suas mãos matar-te-á a ti e à tua família. De seguida irá viajar para outro local, partindo à procura de novos materiais preciosos.

Olhei para ele durante uns instantes, estupefata. A situação em que eu estava era muito mais séria do que eu pensava.

- Mas ele disse à minha família que me libertaria em troca do colar! Como eles vão saber que estão à procura das suas próprias mortes?

- Ele acha arriscado deixar-vos vivos, para além de se divertir sadicamente com torturas. Lamento imenso.

- Porquê que não me deixas escapar?

- Não posso... Ele tem a minha irmã mais nova em completo controlo. Basta eu desobedecer a uma ordem dele para ele a fazer desaparecer para sempre. Ela é a única família que me resta.

- O que aconteceu ao resto da tua família?

- Morreram todos. - Disse largando uma lágrima de raiva. - Ele matou-os com as próprias mãos da forma mais horrível que possas imaginar para conseguir uma das preciosidades que queria.

- Que horror... - Arrepiei-me imaginando o mesmo a acontecer à minha família.
Esta dor que senti fez-me imaginar o que ele sentiria todos os dias, enquanto era obrigado a viver com o autor da morte de toda a sua família. Não hesitei em abraça-lo e ele olhou para mim meigamente, oferecendo-me um efémero sorriso como retribuição.

- Nós vamos dar cabo dele. Podes contar comigo para o que for preciso. - Estava fora de mim. A minha raiva por aquele homem subia assustadoramente e sentia-me capaz de o matar.

- Não é assim tão fácil. Se assim fosse, eu próprio já o teria feito desaparecer.

- Porque dizes isso? - Perguntei receosa.

- Ele é inteligente. Para qualquer lado que vá está rodeado de homens. E todos eles são treinados e têm os mesmos objetivos do que ele. Achas que eu já não o tentei matar antes? Quando soube do que ele tinha feito perdi a cabeça e vim ter com ele. Achava que sozinho conseguia acabar com um grupo de psicopatas que matam pessoas todos os dias como se fossem moscas... - O seu rosto contorceu-se, pensando na estupidez do seu ato.

Ouvia-o espantada. Ainda não me sentia capaz de encarar a realidade em que estava inclusa. As hipóteses de sobreviver neste local eram muito bastas, e eu ainda não interiorizara isso.

- O que aconteceu? – Questionei calmamente, encorajando-o a continuar.

- Antes de conseguir tocar-lhe os seus homens prenderam-me os braços e torturaram-me. Ainda tenho cicatrizes no corpo das coisas que me fizeram. Ele ainda se riu na minha cara e foi então que me falou que tinha a minha irmã aprisionada. Até hoje ainda não descobri onde a meteu. Nem sequer sei se isso é verdade ou se já a matou. Tenho esperança que ela ainda esteja viva, e é por ela que continuo a lutar sobre toda esta raiva. É a minha única esperança para continuar a querer viver, pois não tenho mais ninguém.

- Tens-me a mim agora. - Apertei-lhe a mão e acariciei-a.

A nossa relação tornara-se estranha. Mal nos tínhamos acabado de conhecer e já rondava uma enorme nuvem de carinho sobre ambos.

- Obrigada. Desde que te vi percebi que eras uma rapariga cheia de coragem, e tive esperança que me pudesses ajudar. Foi por isso que te trouxe até aqui. Já ajudei aquele homem por obrigação no encontro de vários objetos, mas desta vez tenho esperança de que as coisas corram melhor. Quero acabar com este pesadelo de uma vez por todas.

- O que pensas fazer?

- Não sei bem como vou fazer, mas penso que sei de uma possível forma de o enganar... E para isso preciso de toda a tua contribuição.

- Claro! Faço o que for preciso. Quero o mesmo que tu.

- O problema é que é muito arriscado...

- Que se dane. Experimentamos. Qualquer coisa é melhor do que se ficarmos parados. Não posso deixar que a minha mãe faça o sacrifício de entregar o colar que simboliza a história de toda a nossa família para no final, acabarmos todos mortos!

- E eu não posso ficar aqui a sacrificar-me para salvar a minha irmã para no final, ela sofrer ainda mais do que eu... Se é que já não sofreu… ou morrermos os dois.

- Não digas isso, de certeza que ela todos os dias pergunta para si mesma quando é que tu vais salva-la.

- Tento sempre acreditar nisso.

- E então qual é o teu plano?

- A minha ideia era...

Um enorme estrondo nos interrompeu. Jayden olhou para mim em pânico e começou imediatamente a correr, puxando-me pelo braço.

- Rápido, corre! Eles chegaram. – Vociferou.


Sem comentários:

Enviar um comentário