sexta-feira, 17 de julho de 2015

Capítulo 20 – O rapto

Atravessei o corredor apressadamente e procurei a chave da porta principal da casa.

- Onde raio é que a Alice pôs a chave?! – Questionei-me aflita observando todos os cantos da sala e da cozinha.

Aproximei-me do sofá, e ali estava ela, perto do comando da televisão. Peguei rapidamente nela e desviei-me em direção à porta. Enfiei a chave dentro da fechadura como se estivesse a rebentar um balão com um alfinete e a porta imediatamente abriu-se.

Corri pela rua sem qualquer preocupação em fechar a porta e chamei por Matias.

Por toda a rua corri e vozeei o nome de Matias e nenhum sinal dele estava à vista. Tinha de o encontrar rapidamente para o acalmar. Não me saia da cabeça a forma como ele falara nem as imagens dele a fazer algo imprudente a si próprio. Talvez estivesse a ser de algum modo convencida por me achar tão importante na vida dele ao ponto de lhe fazer cometer suicídio. Talvez no fundo sentisse o mesmo por ele. Mas neste momento só tinha a certeza de que nunca me iria perdoar se o que imaginava acontecesse.

Parei de correr de rompante e olhei à minha volta. Entre os pensamentos perdi a noção do caminho que estava a seguir. Observei todo o espaço e reconheci uma lembrança: eu de mãos dadas com o Matias. Sem saber como, sabia que estava já bastante longe de casa e apenas a uns metros de distância da casa dele. No entanto não era capaz de me lembrar qual das casas era. Não queria desistir de o procurar mas era perigoso afastar-me mais pois já me sentia demasiado perdida. Virei-me para trás. Olhei para as 3 estradas situadas à minha frente e não sabia por qual delas me tinha dirigido até onde estava naquele instante. Sabendo que cada uma delas seguia para locais completamente diferentes, arrisquei pela do lado direito.

Caminhei em silêncio durante uns minutos e depois percebi, com um alívio, que seguia o caminho certo, pois via-se ao longe as árvores que davam inicio à floresta onde me diverti com a Nicole, a Alice, o Mickael e o Rúben na cascata e onde fizemos aquele maravilhoso piquenique.

Permaneci a chamar pelo Matias enquanto caminhava e, de repente, ouvi um estalido no meio dos ramos das árvores do outro lado da rua que me fizera virar-me num sobressalto.

- Matias?

Perguntei com um sorriso e o meu coração encheu-se de esperança que fosse ele mas apenas se via uma sombra no meio das árvores.

 – Matias és tu?

Avancei vagarosamente até à outra margem da estrada e, por entre as arvores, segui a sombra estendida no chão que parecia querer fugir de mim. Ao longe avistei um vulto de pé, virado de costas para mim. Com a escuridão, não percebia quem era, mas notava-se que era um rapaz que se mexia silenciosamente para trás da árvore, tentando esconder-se.

Não haviam dúvidas, de certeza que era o Matias!

Perdi a paciência e comecei a caminhar aceleradamente em direção a ele.

- Matias, não me ignores! Fartei-me de te procurar. Precisamos de fa…
Ao mesmo tempo que falava uma outra pessoa agarrou-me por trás e tapou-me a boca com um pano húmido de um cheiro muito forte. Desatei a gritar mas ao mesmo tempo que o fiz, perdi todos os sentidos deixando o vulto que estava à minha frente, ainda de costas viradas como uma estátua, a desvanecer-se.
Acordei de rompante como de um sono de um século. Abri os olhos e percebi que estava com as mãos e os pés atados.

Entrei imediatamente em pânico.

Apesar de estar escuro, percebi que estava numa cave velha onde ninguém parecia entrar há imenso tempo. O chão estava coberto por pó e lixo, o teto preenchia-se de enormes teias de aranha e mal conseguia respirar por causa do frio que sentia.

Não fazia ideia de onde estava, nem como fora ali parar. Naquele momento só queria sair dali.

Desatei a gritar por ajuda.

Os gritos saiam roucos por causa do frio, mas não desisti. Gritei com todas as minhas forças até que ouvi um barulho forte. Calei-me de repente e olhei para todos os lados do quarto assustada. Não tinha portas. Apenas se via uma pequena janela redonda.

Ouvi o barulho de uns cadeados, como se estivessem a abrir uma porta, e vi um pequeno buraco no teto, em forma de um quadrado, a abrir-se. Um rapaz espreitou para baixo e logo de seguida, lançou umas escadas em corda.
Tinha medo do que me podia esperar.

O mesmo rapaz que atirou as escadas desceu-as, e atras dele desceu um homem alto e robusto. Reconheci-os mal se viraram para mim: o rapaz mais gordo era o bandido que deu um murro no estomago do Mickael, enquanto os outros dois lhe agarravam os braços e a quem lhe chamaram, o Karlles. E o outro homem alto, robusto e corpulento era sem duvida, o mais violento que me agarrou pelos cabelos e me fez uma grande e feia nodoa negra no braço.
Ambos olharam para mim com desprezo.

- Então?! - Disse o mais velho. - Agora não gritas?

 Aproximaram-se de mim e eu recuei, rastejando até ao canto. Não tive coragem de abrir a boca.

- Não tenhas medo, querida. Não te vamos fazer mal... - Disse o mesmo homem - …por enquanto. – Completou o Karlles. – Já te revistamos e por azar teu não trouxeste o colarzinho contigo. O que é muita pena pois podias neste momento já estar em tua casa sem quais queres riscos de vida. Bem, a culpa disto é tua porque nós avisámos-te!

- Tirem-me daqui! – Implorei.

- Só quando os teus paizinhos nos derem o que queremos. Como não cumpriste o que dissemos optamos por um plano mais… radical.

- Nós não temos nada, eu já vos disse isso!

O homem aproximou-se e agarrou-me agressivamente o queixo.

- Não tentes enganar-me. Não vais ganhar nada com isso, muito pelo contrário.
Um outro rapaz desceu as escadas. Era novo e muito menos corpulento do que os outros dois.

- Há muito tempo que andávamos a perseguir-vos. Desconfiávamos que era a tua família que o tinha. E pelos vistos não estávamos enganados. – Largou-me o queixo e virou-se de costas.

Olhei para eles apavorada e depois falei:

- Como é que vocês descobriram… Se nem eu sabia disso? Só ontem soube…

- Ora… Foi muito fácil. – Disse o homem cinicamente - Quando a vossa casa ardeu, o fumo chamou-nos à atenção e nós aproximamo-nos para ver o que se passava. E aconteceu que estávamos a observar o incêndio dentro da casa, quando vimos a tua mãe a correr e a gritar para o teu pai: “Não… eu tenho que voltar lá dentro. Está lá o colar!” – Riu-se – percebemos logo a que colar se referia. A tua mãe entrou novamente lá dentro enquanto tu gritavas pela janela para que alguém te ajudasse. Que boa mãe que tens, não? Ela foi buscar o colar, por isso de certeza que ainda o tem. E agora, minha querida, não vais sair daqui enquanto o colar não estiver nas minhas mãos.

- Mas ela não o tem! Ela disse-me. O colar ficou muito bem escondido por baixo dos estroços. Nem sabemos se o conseguimos voltar a encontrar…

- E como sabes se ela não te mentiu? A tua mãe escondeu-o por isso a tua mãe consegue encontra-lo. E eu vi-a com os meus próprios olhos a avançar pelas chamas em busca da fortuna.

- Isso não é verdade. Ela nunca quis saber da fortuna!

- Cala-te. Isso não me interessa para nada. Eu deixei um postal no correio da casa onde tu tens ficado a dormir ultimamente, a avisar. Agora vamos ver se a tua família te vai trocar por um colar ou não.

- Ninguém virá trazer colar nenhum, porque o colar está no meio das cinzas. Ele está destruído!

Apertou-me o pescoço contra a parede.

- Já te avisei para não tentares enganar-me! Se o colar não vier parar às minhas mãos faço-te a ti e a toda a tua família desaparecer.
- Não! A minha família não!

- Cala-te! – Deu-me um estalo. – Se não te controlares mato-te já aqui e rapto a tua irmã.

O silêncio instalou-se. Tentei controlar a vontade de chorar.

- Bem – Disse o homem virado para mim – Acho que nos devemos apresentar melhor. – A forma como falava era constantemente provocante – Chamas-te Luciana não é?

Fiz que sim com a cabeça.

- Que lindo nome. - Disse ironicamente - Eu sou o Cruner, este é o Karlles… – Disse apontando para o homem robusto e moreno que se encontrava ao seu lado. - E este desgraçado, é o Jayden. – Apontou para o rapaz mais novo que parecia ter a minha idade. - É um amigo nosso que nos tem ajudado bastante. - Piscou-lhe o olho largando uma pequena gargalhada e este fez um ar de quem estava seriamente irritado.

Aproximou-se de mim com um rolo de fita-cola e tapou-me a boca. Resmunguei para que não fizesse isso, mas nada adiantou.

- Isto é para não voltares a gritar como estavas até agora.

Com isto subiu as escadas com o Karlles atrás dele. O Jayden ficou dentro da cave, supostamente para me vigiar mas olhava para mim tristemente.


1 comentário:

  1. O jayden e a lucy vão-se comer ali no meio ahaha just kidding

    Publica já o próximo capitulo! já!

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