quinta-feira, 23 de julho de 2015

Capítulo 21 – Desespero

Um novo dia nasceu. Eu e a Nicole acordamos cedíssimo, devido ao Scarpy não parar de ladrar.

Quando entrei na cozinha, fiquei completamente apalermada: a porta da cozinha estava aberta e o Scarpy ladrava do lado de fora, como se tivesse visto um fantasma. Aproximei-me do Scarpy e peguei nele para o acalmar.

- Pronto, pronto – Olhei para a porta aberta. – O que se passou Scarpy? Entrou alguém aqui?

Pousei o cão no chão e este desatou a correr em direção ao quarto da Luciana. Fui atras dele e mal entrei, vi que a Luciana não estava lá e que não tinha dormido em casa, pois a cama estava feita.

- Oh meu Deus…

Em choque com o que estava a acontecer, passou-me pela cabeça o pior. Só conseguia imaginar que os homens tinham forçado a fechadura para obrigarem a Luciana a ir com eles. Apressei-me até ao quarto da Nicole e acordei-a atrapalhada.

- Nicole acorda! Rápido! Passa-se alguma coisa, pode ser uma desgraça! Anda lá, levanta-te.

- O que foi Alice, deixa-me dormir… - Disse Nicole virando-se para o outro lado da cama.

- Nicole levanta-te! A Luciana não está em casa e a porta da cozinha estava aberta! Nicole, e se eles entraram aqui e a levaram? Podem ter-lhe feito algum mal…

Nicole levantou-se ensonada e olhou para o relógio na sua mesinha de cabeceira.

- Alice o que é isto? São 6h da manhã!

- Ouviste alguma coisa do que eu te disse?! – Perguntei irritada.

- Se calhar ela foi dormir a casa do Mickael e esqueceu-se de fechar a porta…

- Vou ligar ao Mickael.

Peguei no telemóvel e marquei o número do Mickael. Rapidamente se ouviu o som enervante do telemóvel a chamar. «Anda lá… atende Mickael», sussurrei impacientemente.

- Estou?! Alice? – Disse Mickael acabado de ser acordado.

- Sim sou eu. A Luciana está aí contigo?

- Não… Ela ficou aí a dormir, mas porquê? Está tudo bem?

- Não sei… Eu estou preocupada. Ela não está cá em casa, não dormiu cá e a porta para a estrada estava aberta.

- O quê? Mas está arrombada? Eu vou já aí ter. – Desligou.

- A janela do quarto dela também estava aberta. – Disse Nicole, agora também preocupada.

- Não percebo o que se passou, mas não deve ter sido coisa boa…
Poucos minutos depois, Mickael entrou em casa e logo observou atentamente a fechadura da porta.

- Não foi forçada. Por isso não foram eles que entraram aqui.

- Então porque que estava aberta? E onde é que ela se meteu? – Perguntei aflita.

- Já lhe telefonei e não atende.

- Eu vi o telemóvel dela no quarto. – Avisou Nicole.

- Vamos procura-la. – Decidiu Mickael.

Todos saímos de casa e o primeiro local que nos lembramos para a procurar foi em casa da Constança.

- Mãe, é uma urgência. Por favor, diz-me que a minha irmã está aqui… – Disse Nicole para Constança mal entramos dentro da casa.

Mickael desatou a caminhar por toda a casa com esperanças de a encontrar.

- Não filha, ela não está aqui. Mas o que se passa? Está tudo bem? – Perguntou Constança preocupada.

- Não creio que esteja tudo bem… - Disse eu quando as lágrimas começavam a querer escorrer-me pelos olhos - Se ela não está aqui, não sei onde ela possa estar.

- Estamos preocupados porque ela não dormiu em casa e quando acordamos a porta da cozinha estava aberta. – Disse Mickael apavorado - Ela não ia sair durante a noite sem nos avisar, principalmente com aqueles bandidos por aí à solta! Ela sabe que seria muito arriscado se fizesse uma coisa dessas.

- Oh meu Deus! – Gemeu Constança – Então vocês acham que… que os homens que vos ameaçaram na noite passada entraram dentro de casa e a levaram?

- Não tenho muita certeza disso – disse Nicole para Alice. – A fechadura da porta não estava forçada. Ela pode ter saído para uma emergência e ter-se esquecido que eles estavam atentos aos nossos passos…

- Mas porquê que tinham que fazer isso a ela? Porquê que eles a atacam sempre a ela?? – Perguntou Constança de lágrimas aos olhos.

- Porque ela é importante para nós… - disse Mickael – Eles querem o colar em troca dela, tenho a certeza!

- Só pode ser isso. – Lamentou-se Constança.

- Esperem um bocado… - Disse eu pensativa. – Se eles quisessem fazer chantagem teriam que nos informar disso e marcar um local para nos encontrarmos com eles para podermos entregar o colar e salvar a Luciana.

- Sim, tens razão! – Disse Mickael num ápice – Talvez tenham informado por cartas… Constança, já verificou o correio hoje?

- Não. - Levantou-se rapidamente em direção a uma pequena abertura no canto inferior da porta, na qual conseguiu retirar uma sinistra carta bege-escuro sem qualquer assinatura. – Presumo que seja isto!
Abriu a carta a tremer e por dentro tinha uma folha branca escrita à mão. Leu em voz alta para todos:



“De certeza que já deram por falta dela e de certeza que já sabem qual a função desta carta. Dou-vos 3 dias para me darem o colar. Se depois deste prazo não tiver o colar nas minhas mãos, a Luciana morre. E a sua morte não será com um tiro, mas sim lenta e o mais dolorosamente que nós conseguirmos. Poderão entregar-me o colar na floresta, à meia-noite do 3º dia. Irei encontrar apenas um de vocês SOZINHO. E nem pensem em envolver a polícia neste assunto. Caso tentem algum plano, a Luciana morre.
Neste momento estão homens meus a observar-vos a ler esta carta, estão aí para se certificarem de que vocês a vão queimar depois de a lerem.”

Cruner


Todos estavam pálidos e estupefactos. Ninguém queria acreditar no que tinham acabado de ouvir. Constança desatou a chorar e Mickael continha as suas mãos na cabeça completamente em descontrolo enquanto eu tentava controlar as emoções e pensar racionalmente numa solução. Nicole levantou-se e espreitou pela janela.

- Eles estão escondidos e têm andado a seguir os nossos passos… Devíamos ter fugido logo todos para Lisboa.

- O que fazemos agora? Não podemos deixar que lhe façam mal… - Questionei.

- Vamos! Não está nada perdido, temos de procurar o colar! – Disse Constança levantando-se da cadeira.

- Mas mãe… Tu prometeste à avó que…

- A tua irmã é muito mais importante do que essa promessa.

- Não se preocupe… de certeza que a sua mãe iria compreender. – Tentei confortar.

Quando saímos da casa de Constança, fomos diretos ao local onde a antiga casa ardera para procurar o colar valioso. Não tínhamos qualquer ideia de qual sería a situação da Luciana neste momento, e não podíamos agora preocupar-nos com o estado dela. Era um caso de vida ou de morte. Tínhamos que encontrar aquele colar o mais rápido possível e resolver este drama de uma vez por todas.


            *                    *                    *                   *                 *                 *


No sótão velho e sujo, lá estava eu com as mãos e os pés amarrados e a boca com fita-cola. O Jayden estava ainda de pé a olhar para mim. Algo nele era diferente dos outros homens. Os seus olhos castanhos e meigos, assim como o seu ar sério dizia-me que estava ali contrariado, sob as ordens do Cruner.

«Talvez ele me pudesse ajudar», pensei por momentos.

Fiz então uns ruídos com a boca para que ele me tirasse a fita da boca e me deixasse falar. Ele apenas virou a cara para o lado, ignorando-me.
Tentei novamente e ele focou-me respeitosamente.

- Não posso. – Respondeu.

Olhei para ele desiludida. O Cruner tinha-me posto tanta fita-cola que agora mal conseguia respirar.

Minutos se passaram até que Jayden sentiu-me a sufocar e desta vez não hesitou em tirar-me a fita-cola.

- Obrigado. – Disse suspirando de alívio.

- Não sejas tão rápida a agradecer. Isto foi só para não morreres asfixiada porque vou voltar a pôr-te a fita-cola.

- Por favor, não!

- Lamento – disse ele começando a cortar o grosso pedaço de fita-cola com uma tesoura. – Desta vez conseguirás respirar bem.

- Não! Prometo que não grito.

- E como posso ter a certeza disso? – Tapou-me a boca com a fita-cola.




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