domingo, 28 de junho de 2015

Capítulo 17 – Pequenos Ruídos

Pelo facto de ser Lua-Nova, a noite estava mais escura do que nos outros dias e apesar de já estarmos perto de casa, sentia-me amedrontada. As árvores que nos rodeavam transmitiam-me, cada vez mais, lembranças diluídas de uma suposta agressão do meu passado.

De repente assustei-me com um ruído mesmo atrás de mim. Virei-me para trás de rompante. Mickael agarrou-me, estranhando a minha atitude.

- O que foi? – Perguntou ele sem perceber.

- Não ouviste nada?

- Não. - Olhamos em redor. – Vá, anda que a Alice já deve estar à tua espera para jantar.

Continuamos a caminhar e eu continuei a pressentir os mesmos ruídos, mas desta vez mais longínquos. Talvez fossem efeitos do medo que aquela escuridão me provocava.

Olhei novamente para trás. Desta vez parecera-me ver sombras de outras pessoas.

- Tens a certeza que estás bem? O que se passa?

- Nada. Não ligues.

Segundos depois espreitei para trás e vi um grupo de homens. Lembrei-me dos homens que me perseguiam que Alice, Nicole e a minha mãe me tinham falado e das imagens que me vieram à cabeça no início da tarde. Seriam eles? Cada vez estava mais assustada.

- O que se passa Luciana? Diz de uma vez por todas. Estás-me a deixar preocupado.

Encostei-me disfarçadamente a Mickael e sussurrei-lhe ao ouvido: «Acho que estamos a ser perseguidos!». Ele olhou em redor e respondeu-me, num tom de voz normal, que não estava ali ninguém. Olhei novamente e a rua estava deserta.

- Tenho a certeza que vi um grupo de homens!

Mo momento em que falei percebi que tinha falado alto demais. Num ápice, vários homens fugiram de trás das árvores e colocaram-se à nossa frente, compondo uma barreira e impedindo-nos de continuar a caminhar. Outros fizeram o mesmo por trás de nós e em menos de 5 segundos ficamos sem saída possível, completamente encurralados!

- O quê que vocês querem? – Perguntou Mickael, tentando manter a calma.
Ninguém respondia, e eu olhava para eles, apavorada.

Irritado com a situação, Mickael agarrou a minha mão e caminhou em frente, empurrando dois dos homens. Como era de esperar, em nada isso ajudou. Os homens que estavam por trás de nós agiram rapidamente agarrando os braços de Mickael e impedindo-o de se movimentar. Aproveitei o momento para pegar num pedaço de tronco partido que se encontrava no chão e atirei-o contra um dos homens mas de nada isso protegeu: Um outro homem agarrou-me pelos cabelos e atirou-me contra a parede de uma casa abandonada. De todos os homens que nos rodeavam naquele momento, aquele era o que conseguia assustar mais e, pelos vistos, o mais violento de todos. Tentei fixar a cara dele mas estava demasiado assustada. Só queria salvar o Mickael e desaparecer dali.

- Deixem-na em paz! – Gritou Mickael furioso.

- Então? Tu parecias tão corajoso. Afinal tens pontos fracos. – Respondeu o homem que me agarrara pelos cabelos, olhando para mim arrogantemente.
Agarrou-me novamente de forma brutesca, desta vez pelo braço para me por de pé e apertou-me o pescoço. Não conseguia respirar.

– Larga-a! – Berrou Mickael tentando soltar-se.

- Estás-me a dar uma ordem? – Perguntou o homem com uma gargalhada. - Karlles, ele é teu.

Um outro homem virou-se para Mickael e deu-lhe um forte murro no estômago fazendo-o encolher-se de dor. O que me apertava a garganta libertou-me e caí no chão, ofegante.

- És um fraco! – Berrou Mickael – Sem os teus amigos dava cabo de ti! – Estava fora de si.

O mesmo homem pontapeou-me.

- Quanto mais me irritares pior é! – Avisou.

- O quê que vocês querem de nós? – Desesperou Mickael.

- Quero o que vocês me escondem! – Fez uma pausa. – Pois é. Há anos que o procuramos e finalmente descobrimos quem é que o tem.

- Nós não temos nada! – Vozeei.

Ele aproximou-se de mim e olhou-me altivamente.

- Não me faças rir! És tu mesma que tens o que queremos, espertinha. Tu sabes onde está e nós não te vamos deixar em paz enquanto não nos disseres.

- Já disse que não tenho nada. Não sei do que estão a falar. Deixem-nos!

Por mais impressionante que fosse, fomos libertados. O mais arrogante deles ordenou aos outros que nos largassem e desatamos a correr.
Ao longe, o homem berrou:

- Desta vez deixo-vos escapar vivos, mas não creio que na próxima vez isso aconteça se estiverem de mãos vazias!

Ouvimos os outros homens a rirem-se estupidamente e continuamos a correr, sem abrandar.

Mal os deixamos de os ouvir, olhamos para trás e percebemos que já tinham desaparecido. Paramos então de correr e abraçamo-nos ainda assustados com o que tinha acabado de acontecer.


Já à porta da casa de Alice, esperamos que nos abrissem a porta, confusos. Aconteceu tudo tão rápido que não sabíamos sequer o que pensar.

Mal entramos dentro de casa, Nicole e Alice paralisaram com o nosso aspeto.
Tremíamos. O nosso olhar transmitia terror e feias nódoas de sangue estavam à vista. Revelamos tudo o que aconteceu e elas ouviram-nos até ao fim, apavoradas, observando cada pisadura.

- Está na cara que são os mesmos homens que a tentaram matar! – Exclamou Alice para Nicole – Não percebo porquê que eles fazem isto! – Disse agora virada para mim. – Por diversão?

- Eles disseram que eu tinha algo que eles procuravam há muito tempo.

- Eu não percebi nada do que eles estavam pra lá a dizer! – Disse Mickael, ainda enfurecido.

- Mas o quê que eles procuravam?

- É isso que não percebemos! Eu disse-lhes que não tínhamos nada e eles riram-se.

- Estranho…

- Se calhar roubei-lhes algo. – Propus. – Das coisas que já descobri sobre o meu passado, neste momento acho tudo possível.

- Oh! Não digas disparates! – Indignou-se Nicole.

- Quem te garante o contrário, Nicole? Posso ter feiro coisas terríveis que nenhum de vocês saiba!

- Pára com isso! – Exigiu Alice. - É normal que sintas que não te conheces a ti mesma, mas nós conhecemos e sabemos que tu não és assim. Sempre foste amigável com toda a gente. É impossível teres-lhes roubado o que quer que seja.

- Se vocês repararem, de mim só sei aquilo que vocês me dizem…

- E basta! Conhecemos-te melhor do que aquilo que imaginas. Tenho a certeza que tu e o Mickael não têm culpa nenhuma do que está a acontecer. Não te estou a ver a meteres-te com pessoas como eles, sempre tiveste juízo!

- O que eles querem deve ser valioso. Talvez tenhas algo que não te lembres de ter encontrado.

- Se ela tivesse encontrado, penso que nós saberíamos. – Disse Nicole - A não ser…

- A não ser o quê? – Questionei.

- A não ser que tivesses encontrado essa tal coisa valiosa enquanto vivesses com o Matias.

- É só uma questão de lhe perguntar… - Disse Nicole.

- Uma coisa é certa. Se nós não lhes dermos o que eles querem vai ser muito pior…

- Não te massacres – Disse Mickael acarinhando-me – Agora precisamos é de repousar. Só temos que ter cuidado e evitarmos andar em sítios escondidos ou com pouca gente para que eles não nos apanhem novamente. Pelo menos enquanto não descobrimos o que eles querem.

Com isto Mickael levantou-se da cadeira, despediu-se de nós e preparou-se para sair de casa, mas Alice impediu-o.

- A estas horas não vais a lado nenhum. Já é tarde e eles podem estar por perto. Podes ficar cá a dormir.

- Não é preciso, não quero incomodar…

- Fica. – Pedi – É demasiado arriscado.

- Está bem. – Acabou por concordar.

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