sábado, 17 de janeiro de 2015

Capítulo 4 – Encontros e Desencontros

Acordei de manhã com o Scarpy a lamber-me a cara. Tirei-o de cima de mim e olhei para as horas: 5:00h da manhã. Ainda era muito cedo para sair de casa, mas uma vez que já não tinha sono, levantei-me e comecei a preparar-me. Nunca tinha acordado tão cedo para ir a um lugar, mas estava tão entusiasmada que já nem tinha sono.
Era o primeiro dia numa universidade onde me iria dedicar ao que mais gosto, as Artes. Também era o 1º dia de Alice, mas noutra universidade, a de Coimbra. Sentirei muitas saudades dela, tenho plena noção que raramente a irei ver, os horários das universidades eram completamente diferentes, por isso era impossível combinar-mos algo para fazermos as duas. 
Ouvi um ruido, era Nicole.
- Ainda estás aí? Depois queixa-te! – reclamou.
- Não te preocupes, eu sei tomar conta de mim. Devias estar feliz porque finalmente vou desaparecer da tua vista.
- Tens razão, soube-me bem ouvir essa noticia.
Depois de tomar o pequeno-almoço, saí de casa e entrei na camioneta, sentando-me num banco a ler um livro. A viagem iria ser longa e teria de o fazer todos os dias, só espero que me habitue rápido ao facto de ter de acordar cedo e deitar-me tarde durante a maior parte dos dias.
Continuei a ler o livro, apesar de ser um romance muito antigo. Tinha-o encontrado em casa e parecia ser bastante interessante:

“Os seus olhos brilhavam como duas estrelas cintilantes. Imaginando os dias maravilhosos que seriam passados ao seu lado e, dizendo-lhe que a amava como jamais amara alguém, encostou a sua testa na dela e se beijam sufocadamente como se, em câmara lenta, estivessem a saborear o ultimo morango à face da terra. De seguida caminharam durante o resto da noite, de mãos dadas, pelas ruas repletas de luzes que se acendiam por onde passavam, iluminando a escuridão…”

A camioneta parou e a minha leitura teve que ser interrompida. Agora teria de sair e apanhar o comboio das 7:30h para ir finalmente para o Porto. Depois de entrar no comboio, continuei a ler o livro entusiasmada, para ajudar a passar o tempo, e, alguns minutos depois, avistei pela janela a enorme universidade. Ansiosa por entrar lá dentro, saí do comboio quase a tropeçar e comecei a correr até que um homem vestido de preto, com uma grande capa e um ar frio e distante se colocou à minha frente impedindo a minha passagem e pronunciando friamente: “É o primeiro ano?”. Respondi contendo o susto que sim.
Dito isto ele agarrou-me o braço dizendo “Por aqui”, e conduzindo-me até ao interior. Estava pasmada! A universidade era enorme. E quem seria aquele senhor? Um professor? Estava completamente á nora! Os corredores eram enormes e a distância entre cada sala igualmente. Iria ser extremamente difícil orientar-me com tantas salas. Estávamos a caminhar a paços aceleradíssimos, o que tornava impossível decorar os corredores pelo qual tinha passado. Finalmente chegamos ao nosso destino. Entrei na sala, ansiosa e ofegante da correria e sentei-me numa das 5000 cadeiras, avistando o professor a entrar juntamente com um rapaz que já se encontrava, tal como eu, ligeiramente atrasado. Este sentou-se ao meu lado direito e sorriu para mim. Aquele sorriso não me era nada estranho, sentia que já o tinha visto em algum lugar.
- Olá, lembras-te de mim, ou nem por isso? – disse o rapaz animado.
- Nem por isso… - respondi timidamente por não ter conseguido corresponder à animação dele por me ver ali.
- É normal, só nos vimos uma vez. Digamos que sou muito bom em decorar caras. Sou aquele rapaz que te pediu na Roulotte “ uma fatia de Pizza de queijo e fiambre com um gelado de morango para acompanhar”. – disse rindo-se.
A minha cara tornou-se vermelha como um tomate lembrando-me da forma inútil e arrogante que o tinha atendido.
- Ah sim já me lembro… Desculpa lá a minha arrogância. - não consegui conter o riso.
- Eu sei, não faz mal, eu percebi qual foi a tua intensão para com os teus pais, eu faço o mesmo com os meus, milhões de vezes!
Rindo-me pateticamente, pedi-lhe desculpa novamente. Ele era extremamente simpático.
- Mas tu também tens ou tiveste um negócio? – perguntei depois de perceber que ele me compreendia.
- Sim, eu tenho um café à beira da tua Roulotte, já há muitos anos que trabalho lá. O café era dos meus pais mas desde muito pequeno que começou a pertencer-me apenas a mim. No Verão servia às mesas e costumava ver-te todos os dias.
 - Ah, infelizmente a Roulotte já se foi à vida, tivemos bastante prejuízo e fomos obrigados a fecha-la.
- Lamento imenso. Se as pessoas tivessem reparado na tua beleza de certeza absoluta que iriam todos os dias comprar pizzas. – brincou.
- Oh que exagero! – agora tinha-me deixado com poucas palavras. – Aviso-te já que não sou do tipo de gostar de elogios.
- Só digo a verdade. Ah desculpa, nem sequer me apresentei… Chamo-me Matias. – disse atrapalhado.
- Prazer em conhecer, o meu nome é Luciana.
- O prazer é todo meu. Gostarias de vir comigo tomar um café depois das aulas? É que até agora és a primeira pessoa simpática que encontrei por aqui.
- Gostava imenso, mas é o meu primeiro dia nesta zona, ainda ando bastante perdida…
- Ah, eu já ando aqui há um ano, vivo aqui no Porto num apartamento, torna-se mais fácil. Mas não te preocupes, vens comigo e eu mostro-te onde fica.
Depois das aulas, lá fomos os dois até ao dito café onde conversamos durante mais de duas horas. Era impressionante. Quer onde nós estivéssemos, ele não tirava os olhos de cima de mim. Era um rapaz muito carinhoso, divertido e conversador, daí termos ficado tanto tempo a conversar! Acho que há anos que não falava assim com alguém.




No entanto o sol já não se via e a escuridão estava a começar a absorver a luz. Tinha de ir embora mas já não me lembrava do caminho para o comboio. Sou realmente uma grande desastrada.
Só de pensar que ainda teria de percorrer todo aquele percurso infiltrada na escuridão até casa, me dava náuseas!
- Vamos, eu levo-te a casa. – ofereceu-se Matias depois de nos levantarmos para ir embora.
- Não, que parvoíce, não é preciso.
- É sim, eu não te posso deixar ir embora sozinha nesta escuridão.
- Mas tu nem sabes onde moro! E digo-te já que é longe…
- Não há problema, tu dizes-me o caminho. E a distância não é um problema porque eu adoro fazer longas viagens de carro. E com uma boa companhia ainda e melhor.
- Vais de propósito para tão longe por minha causa?
- Acredita em mim, não há problema. Vamos?

Acabei por concordar. Era estranho ter acabado de o conhecer e já sentir que eramos grandes amigos.

Sem comentários:

Enviar um comentário