quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Capítulo 25 – Regresso da Paixão

Desajeitados, caímos entre a folhagem.

- Tu és completamente doido dessa cabeça! Como decidiste fazer isto? Podíamos ter morrido os dois!

- O que importa é que isso não aconteceu. – Riu-se.

- Conta lá, como soubeste que estava aqui?

- Naquela noite vi-te a procurares-me. Estava perto da floresta onde te raptaram e estava mesmo determinado ao suicídio. Sabia que a minha vida não ia fazer sentido sem ti. Depois ouvi a tua voz e não quis acreditar que me tinhas vindo procurar àquela hora da noite. Corri ao teu encontro e vi, de longe, a levarem o teu corpo. Eram muitos homens e estavam armados por isso não podia fazer nada. Então persegui-vos. Percebi que seria muito difícil conseguir entrar no edifício sem nenhum daqueles homens me virem por isso comecei a pensar num plano…

- Sabes que lá dentro tive muitas horas a olhar para o vazio, sem poder fazer nada e isso fez-me pensar em muitas coisas. – Fiz uma pausa. – Ter estado lá dentro foi horrível, mas graças a isto consegui recuperar grande parte da minha memória e… - Olhei os seus olhos grandes e verdes-acinzentados como se observa-se diretamente a sua alma - … e percebi que te amo como nunca amara nada nem ninguém. – Engoli em seco. – Lembrei-me de todos os momentos. De como nos conhecemos, das horas seguidas que conversamos de forma inseparável… Das tuas surpresas ridículas mas encantadoras… – Soltamos os dois uma gargalhada. – Lembro-me de todos os pormenores sobre ti e cada vez que pensava que te tinhas suicidado por minha causa, ficava vazia e nem desejava sair mais da cave…

Tapou-me a boca impedindo-me de continuar.

- Já percebi. – Disse a sorrir.

Nunca os seus olhos refletiram tanta felicidade como naquele momento. E através dos seus, vi o reflexo dos meus. Beijamo-nos apaixonadamente sem sequer sentir as silvas que nos picavam no chão. Rebolamos sem o beijo se interromper um segundo. Só queria que o tempo parasse naquele momento. No entanto lembrei-me, num susto, da minha família.



- Rápido temos que ir! A minha família, eles vão mata-los! – Levantei-me.

- Calma. De que estás a falar? – Agarrou-me preocupado.

- Eles têm que saber que já estou bem para não entregarem o colar. Mal o entreguem o Cruner mata-os!

- Que colar? Tás a falar de quê?

- Um colar muito valioso… Foi por ele que me raptaram... É uma longa história. Rápido! – Desatamos a correr. – Que horas são?

- Não tenho aqui horas.

Aproximamo-nos do portão do edifício escondidos atrás das árvores. O silêncio pairava e não havia sinais de ninguém.

- Luciana, é muito perigoso estarmos aqui. Eles estão neste momento fulos pela tua fuga e estão à nossa procura por todo o lado. Sabes o que acontece se nos apanham, não sabes?

- Sei, mais do que ninguém. Mas não posso deixar a minha família morrer.

- Espera, anda cá. – Agarrou-me.

- Subimos a esta árvore e escondemo-nos entre as folhas.

Ajudamo-nos um ao outro a subir e permanecemos a observar atentamente todo aquele espaço.

- Não sei onde os meus pais iriam se encontrar com o Cruner mas sei que era nesta floresta. – Sussurrei enquanto ele me observava como se não me estivesse ouvir.

- Luciana… Desculpa fazer esta pergunta agora. Mas gostava de saber o que sentes agora pelo Mickael.

Observei-o hesitante.

- Não sei bem. Mas sei que não o amo como te amo a ti. Também me lembrei do meu passado com ele e sei que nem sempre ele me tratou bem como me tratou nos últimos tempos. Sei que ele não foi verdadeiro comigo e aproveitou a minha perda de memória para enterrar os erros dele e poder ser feliz comigo. No entanto não posso negar que os momentos que passei com ele foram bons e sinceros da parte dele...

- Contínuas duvidosa?

- Não! Não tenho quaisqueres dúvidas de que és tu quem eu quero! Só tenho dúvidas do que farei com ele… Não o quero magoar.

- Compreendo.

Ao longe vi Mickael, com uma caixa na mão.

- Olha. – Apontei. – Pensava que vinham os meus pais…

- Eu vou avisa-lo. Fica aqui.

- Não Matias. Eu Vou. Este problema é meu, não tens que te arriscar a nada.

- Se é teu, também é meu. – Desceu a árvore.

Vi-o a correr em direção a Mickael. Olhei em redor e vi uns seis homens de Cruner a aproximar-se do local onde eles estavam e o meu nervosismo explodiu. Matias tinha poucos segundos para o avisar e esconderem-se. Vi-o a aproximar-se de Mickael e a falar-lhe agitadamente mas Mickael não se mexia. Não acreditava em Matias e eu devia ter previsto que isso acontecesse. Eles odeiam-se!
Não havia tempo para pensar no que fazer por isso agi de forma inconsciente. Atirei-me da árvore em trambulhão e corri o mais que pude até eles. Chegando ao pé dos dois, atirei-me para cima de Mickael, abraçando-o e deixando-o completamente surpreendido e confuso.

- Estou aqui Mickael!

- Como…

- Não há tempo. Corram. Eles vêm aí!

Puxei Mickael e começamos a correr por entre as árvores mas já os homens nos tinham visto. Corriam agora atrás de nós disparando tiros na nossa direção de forma assustadora. Não havia como podermos desviar-nos deles ou evita-los e eu fora a primeira a ser atingida. Senti uma enorme dor, como se algum animal feroz me tivesse arrancado um pedaço de carne da perna. Ficando para trás, gritei aos dois que corressem mas estes ignoraram e pegaram em mim pelos braços.

- Mickael deixa a caixa! Deixa-a pelo caminho. Pode ser que eles parem. – Gritei.

- Tens a cert...

- Faz o que eu digo!

Sem parar de correr, Mickael assim o fez, atirando a caixa para o local onde os homens vinham. Estes viram-na cair no chão, um deles apanhou e continuaram a correr e a disparar tiros, sem qualquer tipo de misericórdia por nós.

Apesar de os vermos cada vez mais perto de nós, havia esperança. Se conseguíssemos sair da floresta eles deixariam de correr atrás de nós devido às pessoas com as quais nos iríamos de certeza cruzar.

No entanto, sem folego e com dores enormes na perna, não aguentava continuar mais. Mickael e Matias arrastavam-me até que alcançamos a estrada e atiramo-nos para ela como se fosse a nossa grande salvação. Aqui já existiam habitações por isso ficamos a observar, impunes, aquilo que iria acontecer a seguir.

Alegremente vimos os homens a abrandarem até pararem totalmente e investigarem a caixa.

Sorrimos de alívio.

No entanto quando olhei novamente vi aquilo que não esperava. Ao longe, o Cruner olhava-me nos olhos apontando a arma a Jayden.

- NÃO! – Berrei ao mesmo tempo que o tiro se ouviu e Jayden caiu inútil no chão.

Matias e Mickael olharam-me sem perceber quando desatei a chorar de raiva. Foquei-os e expliquei a injustiça daquele acontecimento.

- Não imaginam o quanto me apetece fazer-lhe o mesmo.

- Calma. – Matias abraçou-me.

- Bem. – Disse Mickael levantando-se. - Acho que estou aqui a mais.

- Espera. – Agarrei-o pela manga da camisola. - Eu voltei para ele mas não quero deixar de falar contigo. E não olhes para mim dessa maneira porque a culpa disto não é minha. Tu sempre soubeste do quanto eu o amei e mesmo assim quiseste fazer-me gostar de ti…

- Eu sei. Devia ter-me preparado de que um dia a tua memória regressaria. Estava cego. Queria ter-te só para mim, nem que fosse durante pouco tempo… Ainda bem que estás salva. Adeus.

Com isto foi-se embora e apareceu toda a minha família.

- Oh filha! – Exclamou Constança.

Fui abraçada por Nicole e pela minha mãe.

– O que te fizeram lá dentro? – Interrogou Nicole. - Estás num estado terrível.

Olharam apavoradas a para a minha perna ensanguentada.

– O que te aconteceu à perna?

- Calma mãe…

- Tive tantas saudades tuas! – Alice chorava por me ver.

- Eu também. – Abracei-a - Não parei de pensar em vocês um único minuto.


Com isto levaram-me ao hospital.

No dia seguinte estava já quase como nova. Por sorte o tiro não me fez grandes danos. Pelo menos fisicamente, porque psicologicamente ainda a violência daqueles dias me tinham bastante assustada. Para além disso não tinha ainda a certeza se deveríamos estar felizes. Com uma fuga destas de certeza que Cruner não iria ficar-se por ali. Provavelmente isto apenas serviu para o provocar e lhe fazer mais sede em provocar mortes.

Exigi à minha mãe que partíssemos para Lisboa o quanto antes e sem deixar rastos, para podermos finalmente viver em paz, e todos concordaram. Mas antes disso gostaria de me despedir daquele lugar. Porque apesar de terror, aquele foi também um lugar de muitas alegrias e loucuras. Já perdera a memória de tudo aquilo uma vez, e desta vez desejava deixar todos os momentos que ali passara, bem guardados comigo.

Chamei o Matias e este logo me deu atenção.

- O que desejas, minha relíquia?

- Não sejas parvo! – Ri-me. - Quero ir para a praia. Contigo. Tenho tantas saudades!

- É esse o teu único desejo?

- Claro que não. Tu sabes bem o que desejo. – Beijei-o e este olhou-me atrevidamente.

- Nesse caso hoje iremos ficar na praia toda a noite!


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